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A necessidade dos pais monitorarem as crianças no TikTok

Plataforma e seus pares facilitam o acesso dos pequenos a conteúdos impróprios

Por Duda Monteiro de Barros, Jana Sampaio Atualizado em 4 jun 2024, 13h23 - Publicado em 5 mar 2021, 06h00
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  • Há um ano longe do convívio dos amigos e colegas de escola, com bastante tempo livre e louca por dança, a carioca Maria Eduarda Coutinho, de 7 anos, primeiro convenceu os pais a deixá-la fazer do celular seu companheiro fiel e, depois, a ser cadastrada no TikTok, a praça global de convivência de todo mundo que tem menos de 20 anos, em que passou a publicar suas coreografias. Para estar lá, Maria Eduarda precisou aumentar a idade — o mínimo regulamentar é 13 anos —, mas o disfarce foi visto como um mal menor, já que a criançada comparece em peso no aplicativo chinês. “Tentei adiar a entrada dela nas redes. Entendi, porém, que era melhor usar de forma supervisionada do que proibir”, explica a mãe, a administradora Érika Coutinho, 40 anos, que chegou a apagar uma postagem em que a menina se remexia ao som de um funk com letra sexualmente explícita. Segundo especialistas, Érika agiu bem. Com seus vídeos engraçadinhos de um minuto, o Tik­Tok, o app mais baixado no mundo em 2020, parece diversão fácil e inofensiva, e é mesmo — até se esbarrar em imagens vulgares, que flertam com a pornografia. Daí a necessidade de dar aquela monitorada.

    Os riscos contidos no conteúdo do TikTok vêm sendo expostos com frequência cada vez maior. Há dois anos, nos Estados Unidos, o aplicativo foi multado em 5,7 milhões de dólares pela agência americana de proteção ao consumidor por coletar ilegalmente dados de crianças e permitir que pedófilos entrassem em contato. Em janeiro deste ano, foi acusado de usar seus algoritmos para impulsionar conteúdos sensuais (aliás, replica a prática de outras redes sociais) de novo sem bloqueios para menores de idade.

    Diante da repercussão negativa e da pressão de ONGs e governos, a plataforma alterou as configurações de privacidade e trancou os perfis de quem tem entre 13 e 15 anos — agora, para acompanhar essas postagens, é preciso enviar uma solicitação de amizade. Aos tiktokers mirins estão vetadas ainda transmissão ao vivo e troca de mensagens. A adesão antes da hora também tem sido mais punida. Com 200 000 seguidores no aplicativo, a atriz Marianna Santos, 9 anos, de São Paulo, foi banida por esse motivo. “Mesmo sabendo que não é indicado para a faixa etária dela, criei a conta e monitorava todos os seus passos. Com a exclusão do perfil, a solução foi criar um para toda a família”, diz a mãe e empresária da menina, Daniele Santos, de 36 anos.

    Arte sexualidade

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    Um levantamento do próprio Tik­Tok mostrou que o Brasil foi o terceiro país com mais vídeos removidos em 2020 por violar a “segurança de menores” e promover “nudez e atividades sexuais de adultos”. Entre julho e dezembro, o país produziu 7,5 milhões de postagens consideradas inadequadas. O problema não se restringe ao TikTok: o instituto de monitoramento alemão Algorithm Watch detectou que o sistema de inteligência artificial do Instagram privilegia fotos em que há algum grau de nudez. Apesar de o Facebook, dono da rede social, ter classificado o estudo como “falho”, especialistas afirmam que estamos vivendo a era da “hipersexualização das redes”. “Quanto mais tempo a criança passa na internet, maior o risco de deparar com questões impróprias à sua faixa etária. Tamanha exposição pode, sim, estimular o desenvolvimento prematuro da sexualidade”, explica a psicóloga infantil Ceres Araújo. Atraído pelas dancinhas que seus ídolos adolescentes compartilham, o mineiro Pedro Cunha, de 10 anos, postou vídeos de suas próprias coreografias e levou um susto ao receber mensagens de cunho sexual — que mostrou aos pais. “Tenho a senha do celular dele e monitoro os comentários. Expliquei sobre os perigos da internet e fiz um acordo para que ele me diga sempre que se sentir vulnerável”, relata a mãe de Pedro, a psicóloga Cristiane Cunha, 38 anos.

    A construção de uma relação à base de confiança e diálogo é, segundo os especialistas, indispensável (veja o quadro). Outra recomendação é sempre tirar as dúvidas da garotada sobre sexualidade, sem abrir mão da sábia prática de se ater ao que for perguntado. “É preciso aceitar que as crianças e adolescentes que são nativos digitais usam a internet para tudo. Fortalecer os laços e se tornar uma espécie de porto seguro é mais inteligente do que adotar uma atitude de punição”, diz a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo. Segundo ela, a naturalidade com que conteúdos sexuais aparecem na web, se usada de maneira regrada, pode até ser positiva. “Nem mesmo na infância a sexualidade deve ser vista como tabu, e sim como ferramenta para educar as crianças”, afirma. Goste-se ou não do Tik­Tok e afins, as redes são incontornáveis. Cabe aos pais ajudar os filhos a se adaptar e tirar o melhor partido delas, dançando e se divertindo sem riscos — ou, se for o caso, cair fora.

    Publicado em VEJA de 10 de março de 2021, edição nº 2728

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