Em agosto de 2020, Maria Fernanda Cândido foi convidada para um teste confidencial. “Eu não sabia para que filme era, nem para qual papel”, contou ela a VEJA. De Paris, onde vive desde 2017 com o marido, o empresário francês Petrit Spahira, e os dois filhos adolescentes, a brasileira enviou o teste em vídeo numa segunda-feira. Na terça, recebeu o resultado: ela fora aprovada. “O diretor (o inglês David Yates) me ligou dizendo que eu era bem-vinda ao time. Mas eu nem sabia que time era esse.” Assim a atriz de 47 anos entrou para o elenco de Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, terceiro filme da saga derivada de Harry Potter — e um dos lançamentos mais esperados do ano.
Se a aprovação para o papel foi rápida, a viagem a Londres, onde o longa foi rodado, se revelou um desafio excruciante. Não bastasse a pandemia e as fronteiras fechadas, as ruas da França estavam tomadas por protestos e o Brexit dificultara o acesso à Inglaterra. “Foram dez dias de burocracias. O oficial que analisou minha papelada perguntou: ‘O que você vai fazer nesse filme?’. Ainda sem ter muitos detalhes, respondi: ‘É um papel pequeno, mas bem interessante’”, lembra ela, que arrancou risos do guarda — e o carimbo no passaporte.
Animais Fantásticos e Onde Habitam: o Roteiro Original
De modelo na adolescência até o horário nobre da Globo (como esquecer a sensual Paola, de Terra Nostra?), Maria Fernanda preenche todos os requisitos de uma estrela de novela nacional, combinando talento, beleza e carisma. Mas, ao fugir do óbvio, ela trilhou caminhos distintos das colegas globais. “Sou movida por bons projetos”, diz. Essa trajetória culminará, em 14 de abril, na estreia da paranaense no universo mágico criado pela inglesa J.K. Rowling. Em um elenco com Eddie Redmayne e Jude Law, interpreta Vicência Santos, bruxa representante do mundo latino na trama. “Quando pisei no set, senti um privilégio enorme”, conta.
A transição entre o Brasil e o cinema europeu teve um pouco de acaso e outro tanto de faro para oportunidades. Após mais de uma década no Brasil, o marido de Maria Fernanda propôs a mudança para Paris. Dona de uma elegância e inteligência notáveis — ela diz que fala três línguas e meia: português, francês, inglês e “meio” italiano —, a atriz não demorou a arranjar trabalho. A primeira oportunidade veio com o filme O Traidor, do italiano Marco Bellocchio, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes, em 2019. Amparada por uma agência de talentos na França e outra na Itália, ela rodou outros três longas — sem contar Animais Fantásticos — ainda inéditos no Brasil. Um deles é La Chambre des Merveilles, dirigido pela elogiada cineasta francesa Lisa Azuelos. Maria Fernanda ainda manteve um pé do Brasil: ela lança este ano a adaptação de A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector; e El Presidente, série da Amazon que vai investigar na nova temporada a história de João Havelange, o brasileiro que comandou a Fifa entre os anos 70 e 90.
Animais fantásticos – Os crimes de Grindelwald
Impedida de dar detalhes sobre Animais Fantásticos, Maria Fernanda solta pistas. Foram seis meses de filmagem — logo, sua participação deve ir além de um “papel pequeno”. Outra dica é o nome da personagem. “Vicência vem de vicejar, é alguém que vive com força. Santos são humanos que viraram divindades. São características dela”, diz, enigmática. Com a fama mundial à porta, a atriz não se sente pressionada a conquistar Hollywood. Este ano, seu principal projeto é um monólogo sobre Clarice Lispector — de novo — no teatro francês. Nem só as bruxas são poderosas.
Publicado em VEJA de 16 de março de 2022, edição nº 2780
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