Abertura da Olimpíada celebra obra de Chiharu Shiota; conheça a artista
Artista plástica japonesa de 49 anos estudou com Marina Abramovic e usa fios vermelhos para representar a conexão humana em instalações soberbas
A cerimônia de abertura da Olimpíada de Tóquio deu o pontapé oficial para os jogos nessa sexta-feira, 23, sem público e com a presença de cerca de 950 atletas. Na primeira parte da celebração, transmitida para todo o mundo, atores simularam a preparação dos esportistas em casa, com um corredor solitário na esteira e muita arte digital. Em um dos atos, dançarinos surgiram em meio à série de fios vermelhos que compunham a coreografia, ora de maneira virtual, ora se entrelaçando fisicamente entre os passos de dança – uma referência ao trabalho da artista japonesa Chiharu Shiota, conhecida pelo uso ostensivo de linhas em instalações de tirar o fôlego.
Autora de mais de 300 exibições em todo o mundo, a artista de 49 anos descreve os fios como um símbolo das relações humanas, e costuma atá-los a objetos cotidianos para traçar narrativas sobre vida, morte e relacionamentos. As teias, não raro, formam emaranhados artísticos que tomam salas inteiras, ou se enrolam delicadamente sobre objetos frugais, como roupas e sapatos. “Na maioria de minhas instalações, as linhas formam teias tridimensionais e, no fim, tudo se conecta,” declarou em entrevista ao Studio Internacional, em 2016.
Visto como um evento que marca a união entre os povos, a Olimpíada costuma trabalhar com elementos simbólicos que transmitam a ideia de conexão – o emblema olímpico, em que cada um dos cinco aros representa um continente, é o símbolo máximo dessa ideia. Justamente por isso, as linhas de Shiota se encaixam tão bem no espírito da celebração, especialmente em uma ano em que as conexões foram tão escassas. O vermelho, predominante em suas criações, e imponente na bandeira japonesa, oferece às instalações um visual que remete a uma rede de vasos sanguíneos, reforçando ainda mais a ideia de conexão humana: “É como o interior do corpo, a cor do sangue”, declarou ao Hong Kong Tatler.
Nascida em Osaka, em 1972, Shiota estudou artes na Universidade Seika, em Kyoto. Sua ideia inicial era ser pintora, mas descobriu na faculdade que o pincel não fazia seu coração acelerar. Foi nessa época que as linhas se apresentaram como uma alternativa de expressão, e seguem até hoje como sua marca registrada. “Eu queria criar minha própria arte com linhas tridimensionais no espaço. Eu desenho no ar,” conta. Com essa ideia em mente, mudou-se para a Alemanha logo que se formou, em 1996. Sua ideia era estudar com a escultora polonesa Magdalena Abakanowicz, mas – acredite – ela confundiu os nomes na matricula e acabou nas mãos da cultuada Marina Abramovic, um dos nomes mais importantes da arte performática, o que explica sua proximidade com o corpo humano.
Radicada em Berlim desde então, a artista expõem trabalhos em todo o mundo, inclusive no Brasil, que já recebeu suas criações em mostras do CCBB, Japan House, entre outros centros culturais. Algumas das instalações que passaram por aqui chegaram a consumir 4 000 novelos de lã para ser elaboradas, e causam um efeito quase hipnótico em que tem o prazer de vê-las de perto.
Confira trecho da apresentação:
Essa abertura está tão linda! 😍#Tokyo2020 #OpeningCeremony pic.twitter.com/xzNc1G11cP
— Tracklist (@tracklist) July 23, 2021