Aki Kaurismäki exacerba surrealismo em filme sobre refugiado
Em “Toivon Tuolla Puolen”, um sírio chega à Finlândia, onde encontra ódio e alguma ajuda, na figura de um dono de restaurante
O finlandês Aki Kaurismäki volta a falar da crise migratória em seu novo filme, Toivon Tuolla Puolen, seis anos após exibir O Porto, sobre um imigrante ilegal abrigado numa casa modesta perto do porto de Calais. Toivon Tuolla Puolen (ou “O outro lado da esperança”, na tradução livre do inglês), em competição no 67º Festival de Berlim, traz duas histórias paralelas, que se cruzam após 40 minutos de projeção.
Khaled (Sherwan Haji) fugiu de Aleppo depois de ver perecer a família inteira por causa de um míssil sem dono conhecido – podia ser do exército sírio, dos russos, dos americanos, do Estado Islâmico. Ele e sua irmã conseguiram fugir, mas se perderam um do outro no périplo via Turquia, barco para a Grécia, caminho a pé pelos Bálcãs até a Hungria. Khaled chega à Finlândia por acaso, escondido numa carga de carvão, e pede asilo imediatamente. Enquanto espera, sofre todo tipo de humilhação e ameaças físicas.
Enquanto isso, Wikström (Sakari Kuosmanen) é um homem de meia idade que deixa a mulher e a venda de roupas masculinas para apostar tudo no pôquer e comprar um restaurante numa parte meio desolada de Helsinque. Uma noite, encontra Khaled dormindo perto do lixo. E resolve ajudá-lo. Por que é uma pergunta que o filme não coloca. Simplesmente porque é aquilo que uma pessoa deveria fazer. No processo, porém, Wikström vai redescobrir algo em si mesmo.
Kaurismäki mantém suas marcas, como os cenários que parecem do século passado, com toques kitsch, e um humor que deixa a situação parecer ainda mais surrealista do que é. Mas é um humor humanista, que não tripudia em cima dos personagens para fazer graça.