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Secretário de Doria discorda do prefeito e defende MAM

Dois dias depois do vídeo em que prefeito paulistano ataca performance, secretário municipal de Cultura exalta museu, mas propõe classificação indicativa

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 out 2017, 16h19 - Publicado em 3 out 2017, 11h25

O secretário municipal de Cultura de São Paulo, André Sturm, seguiu os passos do chefe, o prefeito João Doria, e gravou um vídeo a respeito “dos recentes acontecimentos envolvendo a Cultura”, como descreve na publicação, feita no Facebook. Mas, ao contrário de Doria, que chamou de “libidinosa” e “imprópria” a performance do artista plástico fluminense Wagner Schwartz, que se desnuda para emular uma escultura da série Bichos, da mineira Lygia Clark, e foi tocado no pé por uma menina acompanhada da mãe, Sturm se posicionou a favor do MAM-SP, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde Schwartz apresentou a performance há uma semana em sessão para convidados. No sábado, dia em que Doria divulgou seu vídeo, manifestantes foram ao parque Ibirapuera, onde fica o museu, e agrediram funcionários da instituição.

“O MAM é um museu com um valoroso histórico na defesa do patrimônio cultural brasileiro, da formação de público, das grandes exposições, seminários. Cumpriu com todas as exigências de razoabilidade. Informou na entrada da exposição que havia cenas de nudez. Informou o que havia dentro da exposição. Ele não pode de maneira nenhuma ser atacado. Seus funcionários e seus visitantes devem ser respeitados. A arte que está lá dentro deve ser respeitada”, diz Sturm, no vídeo.

O secretário de Cultura paulistano também defende a adoção, por museus, de um instrumento de classificação indicativa similar ao que há na TV, no teatro e no cinema. “Não é censura, é apenas indicação, que favorece que os responsáveis possam lidar melhor com o que eles consideram adequado a seus filhos e às crianças e jovens que estão com eles”, diz.

O vídeo tem ao todo 4’44’’ minutos, em que André Sturm dá uma pequena aula de história da arte, lembrando que muitos artistas foram incompreendidos em seu tempo e hoje são aplaudidos e venerados, e defendendo a liberdade e o risco como condições para criar. “Quando os impressionistas fizeram sua primeira exposição, em 1874, os críticos atacaram dizendo que aquilo não era arte”, diz Sturm. “Hoje em dia, esses pintores são os mais valorizados de todos. As obras deles estão em pôsteres, ímã de geladeira, em cartão-postal, em moleskine, até em chaveiro. E quando tem qualquer tipo de exposição dos impressionistas em qualquer lugar do mundo, as filas são enormes.”

Confira abaixo a íntegra do texto presente no vídeo de André Sturm:

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“Nesse sábado, um grupo de pessoas atacou o MAM, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, e agrediu vários de seus funcionários. Isso não pode ser aceito de forma nenhuma.

Um dos primeiros, talvez o primeiro mandamento, da vida em sociedade é a liberdade. Voltaire, que tem sido citado recentemente, disse uma frase que eu acho fundamental. ‘Não concordo com uma só palavra do que você diz, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-las.’

Dessa forma, a gente deve combater, antes de tudo, qualquer tipo de violência, qualquer tipo de intolerância.

É um pressuposto da arte a liberdade. Em muitos casos, a inovação, o risco e até a polêmica.

Vou dar dois exemplos. Quando os impressionistas fizeram sua primeira exposição, em 1874, os críticos atacaram dizendo que aquilo não era arte. Eles tentaram duas vezes fazer a apresentação da exposição no Salão de Arte de Paris, e foram recusados nas duas vezes. Só conseguiram em 1874 apresentar a sua exposição, os artistas que depois seriam conhecidos como impressionistas, na casa de um outro artista. Hoje em dia, esses pintores são os mais valorizados de todos. As obras deles estão em pôsteres, ímã de geladeira, em cartão-postal, em moleskine, até em chaveiro. E quando tem qualquer tipo de exposição dos impressionistas em qualquer lugar do mundo, as filas são enormes. Lembra do que foi aqui em São Paulo, lá no CCBB?

Outro exemplo. Em 1913, quando Stravinsky estreou sua composição Sagração da Primavera, em Paris, no Teatro da Ópera, com um balé cuja coreografia era do Nijinsky, dois nomes imortais da arte, a plateia gritava, ameaçava. Nos jornais, foi um escândalo. Os bailarinos e os músicos continuaram se apresentando e hoje é uma composição que está no repertório de qualquer orquestra do mundo e de qualquer grande balé do mundo.

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De outro lado, muitos artistas que foram de vanguarda no seu tempo apostaram em coisas que não repercutiram, e hoje talvez no máximo são rodapés na história da arte. Mas o risco é fundamental na criação. O risco é parte do avanço da arte, e quando a gente arrisca a gente acerta e a gente erra. Isso é fundamental. A arte é feita sempre de risco.

Eu acho que esse episódio pode ajudar a iniciar um debate sobre uma ideia que eu já ouvi que é o da classificação indicativa para museus. Como já tem no Brasil para todas as artes: TV, cinema, teatro. Ela não é uma censura, ela não é proibitiva, mas ajuda pai, mãe, tio, irmão mais velho que esteja com uma criança a saber melhor o que o espera. Quando você vai ver um filme indicado para 16 anos e está com alguém de idade menor, tem o direito de escolher se vai levá-lo a ver o filme ou não.

A mesma coisa poderia acontecer em museus e exposições. Talvez até de modo autodeclaratório. Enfim, a gente pode aproveitar para buscar maneiras de informar melhor a sociedade sobre as exposições e apresentações em museus.

De novo, não é censura, é apenas indicação, que favorece que os responsáveis possam lidar melhor com o que eles consideram adequado a seus filhos e às crianças e jovens que estão com eles.

Queria reforçar que o MAM, Museu de Arte Moderna de São Paulo, é um museu com um valoroso histórico na defesa do patrimônio cultural brasileiro, da formação de público, das grandes exposições, seminários. Cumpriu com todas as exigências de razoabilidade. Informou na entrada da exposição que havia cenas de nudez. Informou o que havia dentro da exposição. Ele não pode de maneira nenhuma ser atacado. Seus funcionários e seus visitantes devem ser respeitados. A arte que está lá dentro deve ser respeitada. Qualquer manifestação contrária, que também é um direito da sociedade, tem de ser do lado de fora, e sem nenhum tipo de violência. Eu acho de novo que a liberdade é o principal valor da sociedade. A gente precisa sempre respeitar a opinião e o direito dos outros fazerem a arte que eles considerarem razoável e os outros, de criticarem.”

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