Angeli encerra carreira de cartunista após diagnóstico de afasia
Desenhista que criou personagens antológicos como Rê Bordosa e Bob Cuspe se afastará da imprensa depois de mais de 50 anos de carreira
O chargista Angeli encerrará suas atividades como cartunista depois de mais de cinquenta anos de carreira em razão dos problemas de saúde causados por uma doença degenerativa, a afasia, anunciou o perfil do artista no Instagram nessa quarta-feira, 20. “É com tristeza e coragem que a família e os amigos de Angeli comunicam o fim, por questões de saúde, da histórica colaboração entre o autor e a Folha de S.Paulo“, informa a publicação. “Deixamos aqui um agradecimento especial aos leitores que foram os grandes parceiros de Angeli durante essas cinco décadas. Com eles, seguiremos celebrando a obra de Angeli em novas publicações e exposições.”
Segundo a família, Angeli foi diagnosticado há alguns anos com afasia, mesma doença que levou ao anúncio da aposentadoria do ator Bruce Willis no final de março. A doença é um transtorno de linguagem que pode alterar a fala, a compreensão, a leitura e a escrita, e assim comprometer a comunicação do indivíduo. Geralmente, acontece após uma lesão cerebral, como um AVC, mas também pode ser causada por tumores cerebrais, encefalites, traumatismo cranioencefálico. “Ele está bem, continua produzindo e desenhando, a diferença agora é que o traço e o grafismo não acompanham mais a linguagem do cartum. Estão mais soltos, mais plásticos”, informou a esposa Carolina Guaycurus a VEJA. Os novos trabalhos serão apresentados ao público em um novo livro.
Figura lendária das charges e quadrinhos no Brasil, Arnaldo Angeli Filho começou a carreira aos 14 anos, quando publicou seu primeiro desenho na extinta revista Senhor. Pouco depois, em 1973, foi convidado a desenhar para a Folha, onde criou a tira diária Chiclete com Banana, transformada posteriormente em uma revista independente de mesmo nome, em 1985. No trabalho, criou personagens famosos, como Rê Bordosa, Bob Cuspe, Wood & Stock e os Skrotinhos, entre outros.
O reconhecimento, aliás, não ficou apenas no Brasil. Ao longo da carreira prolífica, Angeli lançou vários livros e participou de diversos festivais na Europa. Teve seus desenhos publicados pelas revistas Linus, de Milão, El Vibora, de Barcelona, Humor, de Buenos Aires, e no jornal Diário de Notícias, de Lisboa. A aposentadoria dos jornais dá a ele a possibilidade de se dedicar a arte mais tranquilamente, em um ritmo que respeite as limitações da doença.