Uma das obras que mais tem chamado a atenção do público na feira de arte ArtRio, no Rio de Janeiro, é a escultura-objeto Tupycolé, do coletivo carioca Opavivará!, em exposição no stand da galeria A Gentil Carioca. Trata-se de um freezer — desses usados para armazenar sorvete no mercado — decorado com temas indígenas e recheado de picolés em formato de partes do corpo humano.
Tem picolé de mão, pé, boca, seio e pênis, em sabores de frutas como manga e goiaba. Muita gente não resiste e pede um tupycolé ao galerista Márcio Botner (o preferido tem forma de pênis). Às vezes, ganha, mas a distribuição é restrita. “Se o freezer ficar vazio, os próximos visitantes não poderão ver a obra em sua totalidade”, explica Botner.
Tupycolé faz referência ao Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade, um marco do modernismo brasileiro, e já foi exposta em performances do Opavivará! em Nova York e Viena.
“A arte deve gerar reflexão, inquietação e dúvidas”, afirma Botner, que condena o cancelamento, em Porto Alegre, da exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, após boicote do grupo Movimento Brasil Livre (MBL). “O humor é a principal resposta ao fanatismo, e os tupycolés fazem isso muito bem.”