1 – A CASA DO DRAGÃO
(HBO e HBO Max)
Rhaenyra Targaryen era adolescente quando recebeu do pai a tarefa de sucedê-lo no Trono de Ferro. Sem herdeiros homens para assumir a coroa, o rei Viserys desafiou as tradições ao nomear a filha para o posto mais cobiçado dos Sete Reinos — isso, até o nascimento de Aegon, seu primogênito masculino do segundo casamento, pôr em xeque a escolha de Rhaenyra. O embate sobre qual dos irmãos deve prevalecer detona a incendiária disputa familiar que vai dilacerar o clã Targaryen. O visual suntuoso e minuciosamente filmado dos gigantes alados bailando pelos céus, por si só, põe a série na dianteira entre as melhores do ano. Mas não só: com um roteiro afiado inspirado no livro Fogo e Sangue, de George R.R. Martin, a série devolveu ao público a atmosfera magistral de Game of Thrones — e venceu de lavada a guerra na seara da fantasia contra o decepcionante O Senhor dos Anéis: Anéis de Poder, da Amazon. Ambientada quase 200 anos antes do nascimento de Daenerys Targaryen, estrela da série anterior, A Casa do Dragão retoma elementos cativos daquele universo, como o fato de que não há mocinhos ou vilões — apenas humanos movidos pela sede de poder.
2 – RUPTURA
(Apple TV+)
Como tantos humanos, Mark (Adam Scott) deixa boa parte da vida de lado para focar na carreira. Mas ele não é um funcionário comum: para ser contratado, Mark e os colegas de trabalho enfrentaram um procedimento misterioso que separa o cérebro em duas áreas distintas, a profissional e a pessoal. Quando deixa o escritório no fim do dia, ele não se lembra do que aconteceu ali, preservando segredos corporativos. Tampouco sabe o que se passa em sua vida privada enquanto cumpre as funções mecânicas do dia a dia. Com toques na medida certa de humor ácido e um clima distópico assustador, a produção surgiu discreta, mas sua premissa original e bem executada se revelou um estudo perturbador sobre os males do capitalismo e o poder das grandes corporações sobre a vida humana.
3 – O URSO
(Star+)
A cozinha do The Beef é uma panela de pressão prestes a explodir. Claustrofóbica e barulhenta, ela é assumida pelo talentoso chef Carmen “Carmy” Berzatto (Jeremy Allen White) após a morte do irmão, antigo dono do local, que lhe deixou a lanchonete em testamento. Diante de uma equipe desregrada, e longe do renome das estrelas Michelin, Carmy e os demais funcionários do local precisam lidar com o luto da morte repentina enquanto enfrentam os desafios de salvar o estabelecimento. Com uma premissa simples e execução visceral, a série transporta o espectador para a realidade sufocante das cozinhas profissionais, um cenário que se revela a síntese de sentimentos complexos do ser humano, como a busca pela perfeição e a dificuldade em lidar com os próprios sentimentos.
4 – PACTO BRUTAL
(HBO e HBO Max)
No fim de 1992, o assassinato da atriz Daniella Perez, 22 anos, mocinha da novela De Corpo e Alma, chocou o Brasil pelas circunstâncias inacreditáveis: os autores do crime eram Guilherme de Pádua, colega de elenco da vítima, e sua então esposa, Paula Thomaz. O casal a emboscou e matou com dezoito golpes de punhal. Ambos foram condenados, mas cumpriram só um terço de suas penas (Pádua morreu em novembro passado). A minissérie documental revisita a macabra história e entrevista pessoas próximas a Daniela, expondo a determinação de Gloria Perez, mãe da atriz e autora da novela em que ela atuava, em investigar a morte. Ao recontar o caso de forma esclarecedora trinta anos depois, a série se revelou um competente exemplar nacional do filão do true crime.
5 – HEARTSTOPPER
(Netflix)
Charlie (Joe Locke) é um garoto que se assumiu gay na adolescência. Apesar do apoio da família e dos amigos, os homofóbicos da escola não se cansam de enchê-lo. O garoto recluso ganha outro incentivo para ir ao colégio quando conhece Nick (Kit Connor), a estrela do time de rúgbi que arranca suspiros das meninas — e também de Charlie. A paixão se revela recíproca. Com leveza e graciosidade, a série juvenil fez bonito ao pegar os clichês típicos de tramas adolescentes com heterossexuais e aplicá-los à vida dos jovens gays. Assim, assinalou uma virada e tanto na forma como a TV retrata esse universo: em vez de só conflitos e incompreensão, esses jovens agora têm direito a final feliz — com respaldo de pais amorosos, professores compreensíveis e até um crush para chamar de seu.
Publicado em VEJA de 28 de dezembro de 2022, edição nº 2821