Um grupo de funcionários denunciou em uma carta aberta anônima as “péssimas condições de trabalho” que estariam sendo empregadas na atual edição da Bienal de Arte de São Paulo. O texto, publicado na revista Select, acusa a organização do evento de prejudicar o desempenho profissional, a saúde física e mental dos colaboradores, e de contribuir para a continuidade de práticas discriminatórias.
“O contrato por tempo determinado feito pela Fundação Bienal nos sujeita a condições de trabalho que vão desde o VR abaixo do mercado e insuficiente para uma alimentação adequada até a carga de trabalho extenuante, o ambiente com calor excessivo, causando desmaios, a espera de até três horas para um revezamento que permita ir ao banheiro, além das atitudes de intimidação, o que caracteriza assédio moral, entre outros”, detalha um trecho do texto.
A carta diz ainda que, apesar de as contratações contemplarem a diversidade, a organização não tem políticas de permanência no ambiente de trabalho, dificultando a atuação dos profissionais. “Neste ponto, não há como ter outro entendimento da situação a não ser o de que, para a Fundação, parece bastar a criação de acesso aos diferentes, de forma que possa difundir um discurso de diversidade. Se assim não for, coloca-se a necessidade de que reconheça a urgência de políticas institucionais para proporcionar a esses profissionais condições de desenvolver suas funções”, diz outro trecho.
Outro ponto destacado na carta é o de que a equipe de educação do evento — responsável, entre outras coisas, pela mediação e orientação do público — está subordinada a uma Coordenação de Produção, “acarretando uma condição de desrespeito a todo o processo educativo e replicando o padrão de desvalorização dos profissionais da área da educação”, e acusa a organização de perpetuar “as mesmas estruturas de violência que são denunciadas pelos artistas que compõem a Bienal.”
Em nota enviada a VEJA, a Fundação disse que ficou surpresa ao tomar conhecimento “da carta anônima” e que as lideranças das áreas de projetos e gestão predial, a que as equipes de mediação e orientação de público estão subordinadas, não foram procuradas pelos trabalhadores da mostra. A organização também alega que nenhum dos canais de denúncia sigilosa disponíveis na instituição foi acionado.
A Bienal também disse que os salários dos funcionários “estão em absoluta consonância com os melhores valores praticados no mercado” e que o ambiente e a jornada de trabalho atendem à legislação trabalhista e aos acordos coletivos, e que tem políticas de inclusão como uso de nome social, acessibilidade para cadeirantes e deficientes visuais. “Embora as acusações realizadas não tenham sido direcionadas para os departamentos adequados da maneira protocolar, e nem tenham sido endereçadas aos canais de denúncia existentes para esse fim, a Fundação se compromete a averiguá-las e adotar, se for o caso, as providências cabíveis”, finaliza.
A 35ª Bienal de São Paulo acontece até o dia 10 de dezembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera.