Sinuosos, salientes, fartos ou não, os seios são os órgãos da anatomia feminina mais adequados para narrar a história da civilização e seus humores. Para os povos primitivos africanos eles têm um caráter sagrado. Na Renascença, de modo a celebrar a força do leite materno, gênios da pintura os retrataram volumosos. Quando foi necessário protestar, na década de 60, as mulheres tiraram o sutiã para queimar a lingerie, como sinal de liberdade. Agora, os seios fazem parte de um movimento, digamos, de retrocesso — a procura por formatos naturais, tal qual vieram ao mundo. Cresce o número de mulheres que decidem reduzir o volume ou retirar completamente o silicone. Diz o cirurgião Eduardo Kanashiro, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e CEO da Academia da Pele: “Há pacientes que optam por retirar a prótese porque não estão satisfeitas com o resultado, outras não se adaptaram e também há aquelas que simplesmente acham que não faz mais sentido”.
A tendência foi encabeçada por celebridades de diferentes faixas etárias, como a atriz Scarlett Johansson, a modelo Chrissy Teigen e a empresária Victoria Beckham. “Por anos eu neguei que foi algo estúpido, era um sinal de insegurança. Apenas valorize o que você tem”, disse Victoria. A prótese mamária de silicone ainda é a cirurgia plástica mais procurada pelas brasileiras, mas vem caído a cada ano — cerca de 16% em quatro anos. Dados da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, em contrapartida, mostram que em um ano houve um aumento de 15% na realização da retirada de próteses. No Brasil, ainda não há números oficiais, mas consultórios médicos e redes sociais confirmam a toada.
Desde as primeiras aplicações de silicone, em 1962, as próteses evoluíram de forma drástica. Com as pioneiras, não havia nem a previsão de resultado, durabilidade ou segurança da substância. Nas décadas seguintes, o material evoluiu de forma a adquirir densidade parecida com a mama normal. O gel é coeso, o que ajuda a dar um aspecto natural. São qualidades que tornaram a necessidade da troca bastante rara. Nos últimos tempos não se fala mais em substituição preventiva a cada dez anos. A complicação mais comum, com ocorrência de 2%, é uma espécie de rejeição chamada de contratura capsular, quando a membrana formada pelo próprio organismo em volta da prótese inflama, o que causa dor. O que acontecia até então nesse caso era a troca do silicone. Agora, as mulheres as retiram totalmente. A extração é simples e pode ser feita pela mesma cicatriz do implante. Diz o cirurgião Dênis Calazans, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica: “O que torna o procedimento razoavelmente complexo é, em certos casos, haver a necessidade de realizar a suspensão da mama que eventualmente pode cair com a retirada”. Nada que não se resolva, de olho na volta ao básico.
Publicado em VEJA de 27 de janeiro de 2021, edição nº 2722