Naomi Kawase é a primeira das três diretoras a apresentar seu filme em competição no 70º Festival de Cannes – as outras duas são Sofia Coppola (O Estranho que Nós Amamos) e Lynne Ramsay (You Were Never Really Here). Como era de se esperar no caso da cineasta japonesa, Hikari (em inglês, “Radiance”, ou “brilho”) é um filme delicado e poético, que fala sobre a luz, o cinema e a dificuldade de lidar com as perdas da vida.
A jovem Misako (Ayame Misaki) escreve áudio-descrições para filmes. É uma apaixonada pelo cinema, mas gosta quando ele é carregado de esperança. Claro que nem sempre é esse o desejo do diretor – e Cannes está aí como prova. Em uma das sessões de discussão sobre a áudio-descrição de um drama, ela conhece Nakamori (Masatoshi Nagase), um homem mais velho que retém sua visão parcialmente. Os dois se estranham, porque Nakamori acha que ela está descrevendo as cenas de maneira subjetiva, quando, em sua opinião, deveria deixar espaço para a imaginação do espectador. As palavras, afinal, são menos impactantes do que as imagens.
A percepção de Misako começa a mudar quando ela conhece o trabalho de Nakamori, que é um fotógrafo de renome. Misako, que tem dificuldades em lidar com o desaparecimento do pai e com a demência da mãe, conecta-se com o passado por meio de imagens. Nakamori luta contra o desprezo dos outros por sua condição e busca um novo sentido para a vida.
Como as personagens de Geu-hu, o filme de Hong Sangsoo também apresentado em competição, aqui também há questionamentos fundamentais, por exemplo, como encontrar razões para seguir adiante.