Algumas coisas demoram a mudar. A edição do Festival de Cannes que começa no próximo sábado 11 será a 72ª do tradicional evento francês e, depois de tanto tempo, a quantidade de mulheres entre os diretores reconhecidos continua pequena – elas comandam quatro entre os vinte e um filmes indicados ao prêmio principal. Uma novidade, porém, finalmente se impõe: esta será a primeira vez que uma negra concorre à Palma de Ouro.
Mati Diop, diretora de Atlantique, é filha de pai senegalês e mãe francesa e sobrinha do cineasta senegalês Djibril Diop Mambéty. Ela nasceu e cresceu em Paris, mas é em Senegal que se passa seu primeiro longa-metragem, uma versão mais complexa de seu curta de estreia, um documentário chamado Atlantiques, lançado em 2009. Diop também é atriz e começou a carreira no longa 35 Doses de Rum, de Claire Denis.
Atlantique, o longa, é ficção, mas parte das experiências reais que Diop testemunhou durante a produção do curta. Ambientado na cidade de Dakar, o filme traz no centro um jovem que decide abandonar o país pelo mar, em busca de um futuro melhor, consciente de que sua vida pode acabar no caminho. A história é contada do ponto de vista daqueles que ficam para trás – no caso, a namorada desse jovem, chamada Ada (Mame Bineta Sane).
Apesar de ser a única mulher de descendência africana na competição, Diop não está sozinha no festival. Maimouna N’Diaye, diretora e atriz natural de Burkina Faso, integra o júri principal, que contou com a cineasta afro-americana Ava DuVernay em 2018. DuVernay comemorou a seleção de Diop no Twitter dizendo: “Sim! Muito empolgada com isso. Gostaria de estar lá para vê-la entrar no teatro enquanto todos se levantam para recebê-la. Que momento será esse”.