No início de maio, quando Israel já colhia os frutos de sua pioneira vacinação em massa contra a Covid-19, a cantora Noga Erez se apresentou em uma das mais agitadas casas noturnas de Tel Aviv. Diante de milhares de pessoas, todas imunizadas, sem máscara e sem distanciamento, ela se jogou no meio do público e todos se abraçaram. Dias depois, porém, metade do país se fechou de novo em casa em razão da explosão de violência entre judeus e palestinos. Quando os foguetes disparados da Faixa de Gaza atingiram Tel Aviv recentemente, Noga se abrigou na casa de um amiga. “Eu estava na varanda do prédio dela e vimos os foguetes caindo”, disse a VEJA, em conversa via Zoom. “Era um show louco de luzes, mas com um significado chocante e assustador.”
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Noga, como toda israelense, serviu no Exército por dois anos. Multi-instrumentista e formada pela Academia de Música e Dança de Jerusalém em seu período como militar, ela foi destacada para tocar na banda das Forças Armadas. “Foi lá que aprendi a me apresentar para qualquer tipo de audiência”, conta. Conhecer tão de perto a realidade de Israel tem servido de inspiração para Noga, de 31 anos, compor suas músicas — todas em inglês — desde o primeiro álbum, de 2017. Agora, em seu segundo trabalho, Kids, as letras ganharam uma dimensão ainda mais urgente. O clima festivo do pop eletrônico que ela faz é combinado com versos irônicos sobre as contradições políticas de seu país. Uma dessas faixas é Fire Kites, cujo título faz referência às pipas que os palestinos soltam da Faixa de Gaza carregadas com coquetéis molotov. “Não sinto que faço música devido ao lugar onde moro. Mas moro aqui, então escrevo sobre isso”, diz.
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Superstar em seu país, Noga ganhou notoriedade internacional quando a faixa End of the Road viralizou no TikTok com uma dancinha feita pela atriz Gal Gadot. Assim, expôs ao mundo a vibrante cena musical de Israel. Mas a postura engajada da cantora ainda é exceção entre seus pares. “A maioria dos artistas daqui não escreve sobre o que está acontecendo”, afirma, relembrando o caso da própria Gadot, criticada por um post em que desejava que ambos os lados ficassem em paz. “Em Israel, disseram que ela não nos defendeu suficientemente. Lá fora, falaram o contrário”, lamenta. A curto prazo, ela não enxerga nenhuma mudança por lá, nem com o recente cessar-fogo e a queda do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, após doze anos de governo: “Cessar-fogo não é paz. Tem sido assim há décadas”. Para a nova pop star do Oriente Médio, canções festivas não rimam com alienação política.
Publicado em VEJA de 30 de junho de 2021, edição nº 2744
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