Em 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids, é natural recordar de quem a doença levou. Hoje em dia, os avanços da Ciência permitem que o portador tenha uma vida praticamente normal. Nos anos 1980 e 1990, porém, só no mundo das artes, muitos talentos foram embora prematuramente por complicações com o vírus. Relembre alguns deles, entre brasileiros e estrangeiros.
Renato Russo (1960-1996), cantor e compositor
Líder do Legião Urbana, com o qual lançou sete álbuns de estúdio e vendeu cerca de 20 milhões de discos, o músico brasiliense também lançou-se na carreira solo e, até hoje, é idolatrado por fãs. Ele descobriu que era soropositivo em 1989. Nunca assumiu publicamente a doença, mesmo quando questionado por jornalistas.
Henrique de Souza Filho, o Henfil (1944-1988), cartunista
Mineiro, destacou-se como um cronista de humor, tanto desenhando como escrevendo, sempre com críticas certeiras à política do país. Em plena ditadura militar, lançou a revista satírica Fradim, eternizando personagens como Graúna, o Bode Orelana e o nordestino Zeferino. Ele e seus irmãos – o músico Chico Mário, que morreu no mesmo ano, e o sociólogo Betinho – eram hemofílicos e foram contaminados durante transfusões de sangue.
Herbert de Souza, o Betinho (1935-1997), sociólogo
Como seus irmãos, todos hemofílicos, contraiu o vírus em transfusões de sangue. Sua contaminação foi constada em 1986, tornando-o uma das figuras públicas mais atuantes na defesa dos direitos dos portadores. No mesmo ano, fundou a
Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS. Mas é mais lembrado pela Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Bastante atuante, dizia que a sua condição de soropositivo o forçava a “comemorar a vida todas as manhãs”.
Sandra Bréa (1952-2000), atriz
Musa da televisão dos anos 1970 e 1980, ela atuou em novelas como O Bem Amado, Os Ossos do Barão, Elas por Elas e Ti Ti Ti. Em 1993, anunciou que era soropositiva, passando a lutar contra o preconceito e a desinformação sobre a doença. Afastada para cuidar da saúde, declarou que não morreria de aids. “Morrerei como qualquer um, atropelada”. No final de 1999, foi diagnosticada com câncer de pulmão. Após recusar o tratamento com quimioterapia, morreu poucos meses depois.
Agenor Neto, o Cazuza (1958-1990), músico
Poeta do rock nacional, surgiu como líder do Barão Vermelho e aproximou-se da MPB em sua carreira solo, aclamado pela crítica. Em 1986, foi internado com pneumonia e os exames mostraram que estava infectado com o HIV. Depois de dois meses nos Estados Unidos para se tratar com AZT, voltou ao Brasil para se dedicar ao disco mais importante de sua carreira: Ideologia. No auge do sucesso, assumiu publicamente ser portador do HIV no início de 1989. Comparecia a premiações em uma cadeira de rodas, pois queria desmitificar a doença. Faleceu um ano seguinte, vítima de um choque séptico causado pela aids. Cerca de sete mil pessoas compareceram ao seu velório.
Claudia Magno (1958-1994), atriz
Lançada no filme Menino do Rio em 1981, ela fez diversos trabalhos na televisão, como as novelas Um Sonho a Mais, Roda de Fogo e Fera Radical. Em 1988, venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília, por Presença de Marisa. Em 1993, começou a enfrentar problemas de saúde e, depois de um quadro de pneumonia, descobriu ser soropositiva. Seu tratamento foi custeado na época pela própria Globo. Em 1994, atuava na novela Sonho Meu quando foi internada e faleceu por insuficiência respiratória aguda, em decorrência da aids.
Lauro Corona (1957-1989), ator
Astro da televisão brasileira nos anos 1980, fez sucesso nas novelas Dancin’ Days, Elas por Elas, Louco Amor, Corpo a Corpo e Direito de Amar. Também estrelou filmes, como O Sonho Não Acabou e Bete Balanço. Uma das primeiras celebridades a morrer por complicações do vírus, atuava, na época, no folhetim Vida Nova. A despedida de seu personagem foi feita às pressas, utilizando um áudio do ator declamando um poema de Fernando Pessoa. Ele se recusava a assumir a doença, mantinha os problemas de saúde em segredo até para os amigos e tratava eventuais sintomas com homeopatia.
Anthony Perkins (1932-1992), ator norte-americano
O eterno psicopata Norman Bates, de Psicose, também trabalhou com cineastas como Claude Chabrol, René Clement e Orson Welles. Era conhecido nos bastidores pela timidez e discrição, ainda que não escondesse ser bissexual. Segundo uma biografia não autorizada, além do casamento com a atriz Marisa Berenson, foi amante, entre outros, do bailarino russo Rudolf Nureyev, que também faleceu com aids. Diagnosticado em 1989, manteve o tratamento em segredo e continuou bastante ativo. Só no ano de sua morte realizou dois trabalhos para a televisão.
Isaac Asimov (1920-1990), escritor russo radicado nos Estados Unidos
Um dos mestres da ficção científica do século XX, o autor assinou, entre seus 463 livros, o conto Eu, Robô e a trilogia Fundação. Falecido em 1992, em Nova York, por complicações cardíacas e renais, teve lançada postumamente, dez anos depois, uma autobiografia, na qual revelava ser soropositivo. Ele teria contraído o vírus, em 1983, durante uma cirurgia bariátrica na qual precisou de transfusão de sangue.
Freddie Mercury (1946-1991), músico inglês, nascido na Tanzânia
Líder do Queen e uma das vozes mais consagradas da música pop, o cantor assumiu publicamente a doença um dia antes de falecer. Mas, desde 1987, quando teria recebido o diagnóstico, a imprensa especulava sobre isso. Segundo seu parceiro, o cabeleireiro Jim Hutton, o astro decidiu negar sempre que fosse questionado sobre o assunto. Conforme os sintomas ficaram mais visíveis – principalmente, na aparência muito magra -, a banda decidiu se afastar dos palcos para ele se cuidar. Recluso, Mercury continuou gravando canções, que foram lançadas após sua morte, após uma broncopneumonia causada pelo HIV.