O western, ou faroeste, é o gênero cinematográfico essencialmente americano. Mas, por muito tempo, divulgou a imagem dos nativos como povos selvagens que massacravam os brancos sem razão. Hostiles, de Scott Cooper, exibido no Festival de Toronto, é um faroeste moderno, em que brancos e índios estão sujeitos à violência na ocupação dos territórios no oeste dos Estados Unidos.
O filme abre com uma demonstração bem crua desta violência: o rancho de uma família é atacado por índios Comanche, e apenas Rosalie Quaid (Rosamund Pike) escapa – até o bebê que segura nos braços é morto, numa cena chocante. Não muito longe dali, o Capitão Joseph J. Blocker (Christian Bale) recebe uma missão: levar o Chefe Falcão Amarelo (Wes Studi), que está morrendo, e sua família, do Novo México até Montana, para que ele possa ser enterrado nas terras de sua tribo Cheyenne. Blocker, que não tem nenhuma afeição particular pelos índios que combate há anos, tenta recusar a missão, mas recebe a ameaça de ser levado à corte marcial e do corte de sua aposentadoria. Sem alternativa, ele parte na longa jornada de mais de mil quilômetros. No caminho, encontra Rosalie, que está em choque. O capitão toma para si a responsabilidade de protegê-la. A tensão no grupo é evidente, mas, aos poucos, todos percebem que precisam se unir contra as ameaças.
De ritmo lento, Hostiles registra as mudanças na paisagem em bela fotografia de Masanobu Takayanagi. Principalmente, registra a revelação das nuances do Capitão Blocker, um homem duro, mas também educado, com senso de honra e dever, numa performance acertada de Christian Bale, outro possível indicado. Os nativos, porém, apesar de tratados com cuidado, poderiam ser um pouco mais desenvolvidos. No fundo, o filme fala sobre a violência impregnada na sociedade americana desde seus primórdios e no alto preço pago pela guerra.