Por que você resolveu falar sobre o etarismo em relação à mulher? Senti a questão na própria pele. Sou uma mulher de 55 anos e, quando estava chegando aos 50, percebi um movimento do tipo “já passou da idade”, “não pode mais se vestir assim” ou “este cabelo não combina com mulheres mais velhas”. Quem falou que não posso? Escolho o cabelo, a roupa que vestirei e falo sobre minha idade porque ela é apenas um número. A idade está na cabeça e no que escolhemos viver.
A que atribui o preconceito? As mulheres são reféns de uma sociedade machista. Diminuí-las é mais jogo para todos. Reduzi-las em inteligência, salário, potência. É como se tivéssemos prazo de validade, como se nosso tempo fosse pautado pelo período em que somos aptas à reprodução e, a partir do momento em que não reproduzimos mais, não servimos para a sociedade.
Quais os tabus são mais irritantes? Tudo é bobagem. Até onde sei, não existe um decreto dizendo o que é proibido a partir dos 50 anos. Tem alguma coisa errada nisso. É machismo porque a mulher empoderada não interessa aos homens. Ter opinião, ser bem colocada na carreira e estabelecida financeiramente não é bom porque, se o homem fizer algo com que ela não concorde, ela não aceitará. Entende que esse tipo de mulher não serve para a sociedade?
O que acha de procedimentos estéticos para disfarçar a idade? Fazê-los em nome da autoestima é uma coisa, mas com a finalidade de parecer mais jovem é um tiro no pé. Se tenho 55 anos, não vai ser possível nesta encarnação que fique com cara de 25. Se me cuido, é para estar na minha melhor versão aos 55 anos. A busca incessante pela eterna juventude não rola. Nesse caso, é melhor procurar uma terapia.
Como as mulheres reagem aos seus posicionamentos? Elas demonstram uma gratidão louca. Fiz o programa 50 e Tantas, nas minhas redes sociais, sem nenhum patrocínio, só para falar disso. Vamos para a segunda temporada. Ele inspira as mulheres a ficarem alertas, a responder aos maridos desavisados, aos filhos que nos colocam numa cadeira de balanço com tricô na mão. Não que isso seja ruim. Mas, se a pessoa não quer essa vida, ser fadada a ela é uma sacanagem.
Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2022, edição nº 2776