Com Gianecchini e Sabatella, filme chapa-branca sobre Flordelis é sofrível
Em 2009, onze anos antes ser acusada de matar o marido, deputada contou sua história em produção pavorosa com atores da Globo atuando de graça
Há onze anos, a impressionante história de vida da atual deputada federal Flordelis (PSD-RJ) virou filme com um elenco de fazer inveja a qualquer superprodução brasileira. Mas o capítulo mais macabro da sua vida, daqueles de fazer qualquer roteirista duvidar da verossimilhança dos fatos, ainda não tinha ocorrido: a acusação de mandar matar o próprio marido, o pastor Anderson do Carmo (1977-2019), auxiliada por outras nove pessoas. Entre elas, estão cinco filhos e uma neta de Flordelis, que já foram presos. A deputada está em liberdade, beneficiada pelo foro privilegiado. Se fosse refilmado, o enredo hoje envolveria envenenamento, sexo entre irmãos, rituais religiosos e orgias.
Mas não é essa a história de Flordelis – Basta uma Palavra para Mudar, de 2009. Com cerca de 1h40 de duração, praticamente todo filmado em preto e branco, o título mostra, de um jeito muito chapa-branca, como a pastora adotou quase 40 jovens em carentes na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e fundou uma ONG para ajudar crianças pobres.
O filme é um docudrama, ou seja, intercala interpretações com imagens reais. Flordelis interpreta a si mesma na obra. Atores como Marcello Antony, Giselle Itié, Isabel Fillardis, Ana Furtado, Reynaldo Gianecchini, Rodrigo Hilbert, Leticia Sabatella, Cauã Reymond, Fernanda Lima, Bruna Marquezine, Deborah Secco, Thiago Martins, Fernanda Machado, Letícia Spiller, Alinne Moraes e Sergio Marrone vivem os filhos de Flordelis e dão depoimentos sobre como a vida deles era antes de serem adotados. Todos os atores, aliás, atuaram de graça, impressionados com a história de vida dela.
O filme está disponível na íntegra no YouTube e tem cerca de 330 mil visualizações (assista abaixo). Na ocasião da estreia, o filme chegou a ser exibido no Festival de Cinema do Rio, com direito a pré-estreia e cobertura da imprensa especializada. A distribuição, no entanto, não foi grande. Ele foi exibido em 41 salas e teve público de apenas 21 603 pessoas, rendendo 180.751,02 reais, segundo dados da Ancine.
Pensado para ser um curta-metragem, o projeto ganhou fôlego com a entrada dos atores famosos. O resultado é sofrível. Cada um deles surge na tela interpretando um dos filhos e contando sua história em monólogos longuíssimos, em cenários claramente montados em um estúdio, reproduzindo ambientes de uma favela. Os atores usam figurinos que têm por objetivo recriar roupas humildes, mas o resultado não convence. O texto é ruim e soa como um amontoado de clichês baratos. A trilha sonora é um caso à parte: músicas gospel são inseridas em momentos desconexos, contribuindo para realçar a indigência da produção toda.
Assista ao filme na íntegra abaixo: