Abatida, Elizabeth Keen, Liz para os íntimos, desabafa ao lado da cama do avô no hospital. A agente do FBI (interpretada por Megan Boone) relembra os sete anos da inusitada e perigosa parceria com o enigmático criminoso Raymond Reddington (James Spader) — que fez um acordo com a polícia para entregar colegas da vilania em troca de imunidade. Na jornada, Liz foi envolvida em tramas conspiratórias e revelações de segredos familiares traumáticos. As lamúrias compartilhadas por ela na introspectiva cena da série The Blacklist são bruscamente interrompidas, não por um tiroteio, terroristas ou uma nova emergência do governo americano, reviravoltas comuns ao roteiro do drama policial. O vilão agora é outro: o coronavírus.
A exemplo de tantas outras populares séries de TV americanas, The Blacklist — também conhecida no Brasil como Lista Negra — teve as filmagens canceladas por causa da pandemia, em março, quando a cidade de Nova York rapidamente se transformava em um dos epicentros de proliferação da Covid-19. Com a mesma agilidade de seus agentes da ficção, The Blacklist encontrou uma saída criativa para entregar aos fãs um final para sua sétima temporada. O resultado será exibido no Brasil no dia 18 de junho, às 22h, no canal pago AXN.
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Com metade do 19º episódio gravado, a equipe comandada pelos produtores executivos John Eisendrath e Jon Bokenkamp reduziu e adaptou o desfecho da temporada, que originalmente teria 22 capítulos, e preencheu as lacunas das filmagens inacabadas com animações. “The Blacklist tem uma estética que remete a uma graphic novel, com um clima sombrio e um anti-herói marcante. A animação então se mostrou uma opção natural”, disse a VEJA Eisendrath. Em míseras cinco semanas, prazo ridiculamente apertado para animadores, dezenas de profissionais espalhados pela Europa e Estados Unidos mergulharam na missão para produzir vinte minutos de cena. “Os atores gravaram de casa as vozes, alguns no banheiro, o lugar mais silencioso que encontraram”, conta Eisendrath.
Levando em consideração as condições adversas, o resultado é satisfatório. Os enquadramentos fechados e as cenas de ação observadas a distância foram escolhas para disfarçar alguns defeitos. Os personagens animados se movimentam como os de videogame, e as expressões faciais não mudam muito. Um capricho maior no acabamento demandaria mais tempo de produção.
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O esforço ainda se mostra uma espiada nos muitos desafios que a indústria do entretenimento, ancorada em aglomerações, terá de enfrentar nos próximos meses para retomar as atividades com segurança. “A animação se mostrou uma alternativa que pode ser usada de novo, mas sabemos que James Spader é muito mais charmoso em carne e osso”, diz, com razão, Jon Bokenkamp.
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Clique e AssineEnquanto o futuro do audiovisual pós-pandemia permanece confuso, a equipe de The Blacklist desenvolve, em reuniões on-line, a oitava temporada. A ousada ação feita em meio à crise valeu a pena. O episódio híbrido foi visto por 4 milhões de espectadores nos Estados Unidos, em maio. Por aqui, a série prova sua popularidade pela profusão de plataformas que a exibem, da TV paga ao catálogo da Netflix, além de uma passagem pela Rede Globo. Legado que o coronavírus, o maior vilão enfrentado por Liz e Reddington, não conseguiu frear.
Publicado em VEJA de 10 de junho de 2020, edição nº 2690
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