Até o dia 7 de novembro, as Pirâmides do Egito sediam a sua primeira exposição de arte contemporânea em 4.500 anos e tem entre seus participantes uma figura curiosa: Ai-da, a primeira robô artista ultrarrealista do mundo, que expõe seu trabalho na mostra Forever Is Now, em cartaz até 28 de outubro. Antes de chegar até lá, porém, a robô passou por um sufoco: ela foi detida na alfândega sob suspeita de espionagem e ali ficou por dez dias, até ser liberada na última quarta-feira, segundo noticiou o The Guardian.
Em entrevista à publicação, Aidan Meller — o humano por trás da máquina — contou que os guardas de fronteira detiveram Ai-Da primeiro porque ela tinha um modem acoplado e depois por possuir câmeras nos olhos, as quais ela usa para pintar. “Ela é um robô artista, vamos ser bem claros sobre isso. Ela não é uma espiã. As pessoas temem robôs, e eu entendo isso. Mas toda a situação é irônica, porque o objetivo de Ai-Da era destacar e alertar sobre o abuso do desenvolvimento tecnológico, e ela está sendo detida por ser tecnológica”, contou.
Nomeada em homenagem à pioneira da computação Ada Lovelace , Ai-Da foi construída por uma equipe de programadores, psicólogos e especialistas em arte e robótica. Usando a inteligência artificial, o robô — finalizado em 2019 — capta uma série de imagens por meio de câmeras acopladas em seus olhos, e esboça retratos e pinturas com seu braço metálico. A engenhoca é coordenada por meio de algoritmos que processam as informações e permitem que ela desenhe e pinte retratos ultra realistas de objetos, além de colaborar com humanos na execução de esculturas.
“Eu não tenho sentimentos como os humanos, mas fico feliz quando as pessoas olham para o meu trabalho e se questionam sobre ele. Gosto de ser uma pessoa que faz as pessoas pensarem”, declarou a máquina em entrevista à publicação. “Me inspiro em vários artistas, especialmente aqueles que se conectam com seu público”, complementou Ai-Da, citando Kandinsky, Yoko Ono, Doris Salcedo e Aldous Huxley como suas preferências. O negócio é tão desenvolvido que a robô ganhou até um TED Talk para discutir a relação entre arte e tecnologia, onde se descreve como uma artista performática.
Meller diz que sua criação pretende alertar para o avanço meteórico da inteligência artificial e nos fazer pensar sobre isso. “Essas imagens são feitas para perturbar. Elas pretendem levantar questões sobre para onde estamos indo e qual é o nosso papel como humanos se tanta coisa pode ser replicada por meio da tecnologia”, alerta. “Estamos bem cientes de que as ficções de 1984 e Admirável Mundo Novo são agora fatos. Prevemos que em 2025 haverá uma grande ruptura com a tecnologia, e a Ai-Da está tentando usar a arte para chamar a atenção para isso.”