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Crise de 2008 é pano de fundo de filme sobre nômades com Frances McDormand

Atriz fala sobre longa 'Nomadland', exibido no Festival de Veneza, que retrata o cotidiano de americanos que optaram por viver na estrada

Por Lucas Almeida, de Veneza
Atualizado em 14 set 2020, 17h55 - Publicado em 11 set 2020, 19h00
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  • Um dos filmes mais aguardados do Festival de Veneza, Nomadland, foi exibido nesta sexta-feira, 11, e conta a história de trabalhadores nômades dos Estados Unidos, que viajam em vans e trailers procurando por empregos temporários. A ansiedade do público, porém, tinha mais a ver com a protagonista da trama, a atriz Frances McDormand, vencedora do Oscar por Fargo (1996) e Três Anúncios para um Crime (2017).

    “Eu era a mais velha de toda a equipe de 25 pessoas. Viajamos durante cinco meses, por sete estados. De certa forma, participamos dessas comunidades de Vandwellers”, contou a atriz de 63 anos em uma coletiva de imprensa nesta tarde, usando o termo destinado a quem mora em vans. “Alguns vivem em carros populares e outros até em ônibus escolares.”

    Dirigido, roteirizado e editado pela cineasta chinesa Chloé Zhao (que ainda vai conduzir a superprodução da Marvel Os Eternos), o longa é baseado no livro homônimo da jornalista americana Jessica Bruder, publicado em 2017. Na trama, McDormand vive uma mulher que se torna nômade após a morte do marido e a falência da empresa em que trabalhava, no estado de Nevada.

    Ao fundo, a trama fala sobre a crise imobiliária americana que desembocou na crise financeira mundial de 2008. Porém, Frances defende que o desejo de não fincar raízes tem outras razões. “Existe uma causa econômica, mas o ser humano está evoluindo e quer se movimentar. Depois da quarentena, as pessoas estão querendo mais ir para a estrada, mesmo que por algumas semanas”, disse Frances.

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    Frances McDormand e a cineasta Chloé Zhao em coletiva de imprensa no Festival de Veneza sobre o filme ‘Nomaland’ (//Divulgação)

    Na estrada, a protagonista conhece outros idosos que adotaram o mesmo estilo de vida. Passando por empregos como o de empacotadores da Amazon a garçons em uma feira de evento, os personagens vivem em campings, dormindo em seus veículos e se reunindo com outros nômades de tempos em tempos.

    “Comunidade é muito importante para eles. Eles precisam ser autossuficientes para viverem sozinhos, mas sempre se reúnem depois”, contou Frances através de uma videochamada. “Ouso dizer que é como uma situação socialista, de todos por um e um por todos.”

    A atriz americana contracenou não só com outros atores, mas também com nômades, que aceitaram participar do filme. Chloé Zhao já havia feito o mesmo processo de elenco em seus dois longas anteriores, Songs My Brothers Taught Me (2015) e Domando o Destino (2017).

    “As pessoas ficam intrigadas do porquê queremos contar suas histórias, sendo que elas são as pessoas mais interessantes da sala”, comentou a diretora. Para Frances, o processo para atuação foi esclarecedor: “A coisa mais importante que aprendi foi: sentar num canto, calar a minha boca e só ouvir o que estavam falando. Ouvir é muito importante para um ator”, ela explicou.

    A atriz contou que se surpreendeu durante as gravações, quando foi a um supermercado perto do set. “Me ofereceram um formulário para me candidatar a um trabalho temporário. Corri para a Chloé e falei: está funcionando!”, ela lembrou rindo.

    Apesar do tema pouco explorado, o roteiro segue um caminho linear de um filme de road trip. A protagonista atravessa belas paisagens americanas, passando por dificuldades e conhecendo boas histórias no caminho. O longa ainda é embalado por uma música clássica melancólica, que ajuda a manter o tom de autodescoberta da viagem da protagonista, apesar da escolha banal. “Pesquisei ‘lindas músicas clássicas inspiradas na natureza’ no Google e essa apareceu”, contou Zhao.

    “A história desses nômades é completamente diferentes dos millennials de hoje, que procuram uma vida minimalista”, comenta Zhao. “Estávamos interessados especialmente nas mulheres, que saíram de um mundo com cercas brancas para um em que precisam ser completamente autossuficientes.”

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