Depois de uma enxurrada de mensagens e e-mails em sua caixa postal, Jim Chueng, o desenhista de Vingadores: A Cruzada das Crianças, ficou sabendo das confusões envolvendo a sua obra no Brasil e disse que o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, “está fora do contato com os tempos atuais”. Jim usou suas redes sociais para desabafar sobre o assunto:
“Foi com muita surpresa que, hoje, eu soube que o prefeito do Rio de Janeiro decidiu proibir a venda do meu livro (de Allan Heinberg) Vingadores: A Cruzada das Crianças por suposto material inapropriado. Para quem não conhece o trabalho de 2010, a controvérsia envolve um beijo entre dois personagens masculinos”, diz o desenhista.
Jim diz não saber e entender o motivo por trás da decisão do prefeito, mas afirma que “não havia motivação ou agenda oculta por trás da obra na promoção de um estilo de vida específico, nem no direcionamento a um público único”. E explica que a cena é “um momento de ternura entre dois personagens que estão em um relacionamento bem definido”.
“O fato de este livro, de quase uma década atrás, estar agora sendo atacado pelo prefeito talvez apenas ressalte a maneira como ele (Crivella) está fora de contato com os tempos atuais. A comunidade LGBTQ está aqui para ficar, e eu não tenho nada além de amor e apoio para aqueles que continuam lutando pela validade e uma voz a ser ouvida”, escreveu o artista.
Ele terminou deixando uma mensagem ao povo brasileiro: “Espero que o povo bonito do Brasil, a nação maravilhosamente diversa e orgulhosa, veja através desse “barulho” político e coloque seu foco na luz e nas maneiras de se unir, em vez de ajudar a semear as sementes do conflito e da divisão.”
Entenda a história
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, determinou aos organizadores da 19ª Bienal do Livro que recolhessem dos estandes a HQ Vingadores – A Cruzada das Crianças, da Marvel Comics. Em pronunciamento nas redes sociais nesta quinta-feira 5, Crivella afirmou que a história em quadrinhos traz “conteúdo sexual para menores” e deve ser comercializada apenas se embalada em um plástico preto e lacrado, “com aviso sobre seu conteúdo”.
Na obra, os protagonistas formam um casal homossexual, formado por dois homens. Em uma das cenas, eles se beijam e trocam carícias. Lançado em 2010, o livro não é destinado ao público infantil e o tema da história não gira em torno do casal homoafetivo.
Fiscais da Secretaria Municipal de Ordem Pública percorreram estandes da Bienal para tentar restringir a venda de livros com temas ligados à homossexualidade. Na manhã desta sexta, 6, representantes da Secretaria Municipal de Educação avisaram livreiros e editoras que haveria a fiscalização. A prefeitura ordenou os volumes sejam lacrados e apresentados como sendo de conteúdo impróprio.
A organização da Bienal afirmou que vai à justiça com o caso e disse em nota enviada a VEJA, que o evento “dá voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser” e, por isso, não cumprirá a determinação do prefeito.
“Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados. Inclusive, no próximo fim de semana, a Bienal do Livro terá três painéis para debater a literatura Trans e LGBTQA+”, afirmou.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio de Janeiro e o Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) criticaram, na tarde desta sexta-feira, a decisão de Crivella de mandar recolher dos estandes o livro em quadrinhos Vingadores: A Cruzada das Crianças e disseram que a tentativa revela “censura”.