Da narrativa investigativa ao thriller: o novo salto literário de Marcelo Godoy
Depois de duas obras elogiadas, ambientadas na recente história da ditadura brasileira, o jornalista lança Olhos Negros, que marca sua estreia na ficção
Escrever um livro é sempre um ato de coragem. O trabalho pode envolver anos de pesquisa, exige organização e um fio condutor capaz de prender o leitor logo nas primeiras páginas. Mais corajoso ainda é alcançar reconhecimento dentro de um determinado estilo e, então, decidir trilhar outro caminho. Esse é o desafio de Marcelo Godoy, jornalista de alma e agora autor de seu terceiro livro. Na última quinta-feira, 27, ele lançou, em São Paulo, Olhos Negros (Ed. Alameda, 306 págs., R$ 94), em um evento singelo, mas muito bem frequentado, com presenças como a socióloga Maria Victoria Benevides e o jornalista José Paulo Kupfer, além de inúmeros amigos e colegas de profissão.
Godoy é conhecido pela veia investigativa na cobertura policial, que alimenta as páginas de O Estado de S. Paulo há mais de 25 anos. Tem fôlego incansável para apurar boas histórias, que o levam a varar madrugadas. Da rotina de repórter, nasceu o primeiro livro, A Casa da Vovó – Uma biografia do DOI-Codi, vencedor do Prêmio Jabuti em 2015. No ano passado, publicou Cachorros. “O livro é um espanto”, afirma o jornalista e apresentador do programa Diálogos, Mario Sergio Conti, que o considera “historiador e escritor rigoroso”. “Marcelo Godoy mergulhou no submundo militar para contar a tétrica saga de um dirigente do PCB que virou espião da ditadura. Severino Theodoro de Mello delatou amigos e companheiros, foi peça-chave de uma máquina de matar. É um dos grandes livros do período.”
O mais italiano dos brasileiros, Godoy preparou agora uma obra que dialoga com a cultura de seus ancestrais. Olhos Negros é ambientada no município brasileiro e fictício de Santo Antônio de Pádua, referência direta à cidade real do Vêneto. “Os vênetos são conhecidos pelo mau humor, pelo machismo e pelo conservadorismo”, diz o autor. Nesse cenário vive a família Volpin, chefiada por Vicente, patriarca de personalidade autoritária e fervor religioso agressivo. Como define o escritor, tradutor e jornalista Irineu Franco Perpétuo na apresentação do livro, Vicente “é uma espécie de Fiódor Karamázov com sangue vêneto, que trata mulheres como predador e batiza os filhos com nomes bíblicos — conferindo-lhes alcunhas pejorativas da mesma origem”.
Olhos Negros se passa no período de redemocratização do Brasil, contexto que aproxima o drama íntimo dos personagens da percepção de que as feridas privadas refletem fissuras mais amplas da sociedade. Tudo conduzido em ritmo de ação — “ritmo de thriller, com meticulosa atenção aos detalhes”, como resume Perpétuo.
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