No início do século XV, um bloco de mármore de 5,5 metros de altura e mais de 5 toneladas deixou uma pedreira na cidade italiana de Carrara e foi levada de barco pelo mar Mediterrâneo e pelo rio Arno até Florença, na mesma região da Toscana, onde frustou diversos escultores até acabar nas mãos de Michelangelo, em 1501, e converter-se na escultura mais famoso da renascença italiana: o David. Passados cinco séculos, a imponente escultura ganhará uma réplica em tamanho real inteiramente feita a partir de uma impressão 3D, que será a atração central no pavilhão italiano da Expo 2020 Dubai, com início previsto para outubro de 2021.
Segundo o The New York Times, nos próximos meses uma equipe de engenheiros, técnicos, artesãos e restauradores usará do que Gazie Tucci, o coordenador do projeto, descreve como “a mais avançada tecnologia atual” para imprimir uma réplica exata da estátua. Para isso, a escultura original será digitalizada por meio de scanners a laser e instrumentos industriais de peso, para se obter a maior resolução possível. Com os dados processados, a impressão será feita a partir de resinas e “materiais inovadores” ainda desconhecidos. Será polida primeiro com máquinas e depois manualmente, e finalizada pelos restauradores, que adicionarão os detalhes finais.
Esta não é a primeira vez que a escultura de Michelangelo é impressa em 3D. Há cerca de 20 anos, a Universidade de Stanford foi pioneira na digitalização do David, o que lhe permitiu produzir réplicas fiéis – só que em tamanho reduzido. O projeto italiano é a primeira tentativa de reproduzir as dimensões colossais da obra original, beneficiando-se do avanço tecnológico promovido desde então para viabilizar a réplica em escala real, e apresentá-la ao mundo como símbolo da tecnologia do país. Vale lembrar que já existiam outras cópias célebres do David em tamanho real, feitas no passado por meio de técnicas tradicionais, como aquela visível ao ar livre na Piazza della Signoria, em Florença, local original onde ficava a criação de Michelangelo – hoje protegida das intempéries dentro da Galleria dell’Accademia.
Todo o processo será gravado e exibido como um making-of para os visitantes da Expo Dubai 2020, e pode servir como uma espécie de “tutorial” para eventuais emergências, caso obras renomadas sofram danos irreversíveis. Depois da exibição, a “gêmea digital” de David deve retornar à Florença, mas ainda sem destino definido na cidade.