De Baile de Favela a Bocelli, músicas roubam a cena na ginástica artística
Canções eleitas por atletas refletem a identidade cultural de cada país e passam mensagens aos jurados
Lançado em 2015, o funk Baile de Favela, do paulistano MC João, retornou essa semana às listas de músicas virais mais ouvidas do canal de streaming Spotify. O motivo do sucesso é óbvio e atende por Rebeca Andrade. A ginasta de 22 anos, vencedora das medalhas de prata e ouro nas Olimpíadas de Tóquio, embalou suas apresentações de solo com uma versão do hit. Rhony Ferreira, coreógrafo da seleção brasileira, foi o responsável pela escolha que mistura Tocata e Fuga, do alemão Johann Sebastian Bach, com o funk que presta uma homenagem aos principais bailes do gênero em São Paulo. O coreógrafo é também o nome por trás das apresentações de Daiane dos Santos embaladas pela indefectível canção Brasileirinho. “É nossa chance de mostrarmos ao mundo nossa cultura”, disse o coreógrafo à Globo.
Não é só o Brasil, porém, que usa a tática de adicionar o tempero local a uma competição global. A italiana Vanessa Ferrari, 30 anos, conquistou a medalha de prata no solo nesta segunda, 2, ao som de Con te partirò (Hora de dizer adeus, em português), do tenor e compatriota Andrea Bocelli. A faixa não só prestava uma homenagem à música de seu país, como também trazia consigo a mensagem de despedida da veterana, que ganhou sua primeira medalha após quatro Olimpíadas. O ouro ficou com a americana Jade Carey, que se rendeu ao pop romântico típico dos Estados Unidos, ao se apresentar com a canção Powerful do também americano Major Lazer e da cantora inglesa Ellie Goulding.
Para além de servir como uma bandeira da cultura do próprio país, as canções eleitas pelas atletas por vezes tentam se conectar com o local da apresentação e com o júri, que é formado por diversas nacionalidades. Rebeca, por exemplo, já competiu ao som de Beyoncé. A estrela Simone Biles, em 2016, no Rio de Janeiro, misturou canções em um mix que incluía a trilha do filme Rio e a faixa Brazil, do grupo feminino Bellini.
Curiosamente, a música é um elemento exclusivo das ginastas mulheres: as competições de solo masculino são feitas no total silêncio. A diferença nas regras vem do passado dos jogos. Enquanto a ginástica artística masculina julga a força, a feminina é avaliada por uma mistura de força e dança – inicialmente, as mulheres eram medidas por sua “graciosidade” na categoria, aberta para elas apenas em 1928. Outra curiosidade é que as músicas só podem ser instrumentais, sem nenhuma letra perceptível. Assim ficou mais fácil misturar Bach a um clássico do funk dito “proibidão”.