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De Gal Gadot a Natalie Portman, israelenses se dividem sobre conflito

Personalidades da região acirram "guerra virtual" ao defender diferentes pontos de vista sobre o embate entre Palestina e Israel

Por Amanda Capuano Atualizado em 13 Maio 2021, 19h53 - Publicado em 13 Maio 2021, 17h14
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  • Desde o início da semana, Israel e Palestina estampam os noticiários com mais um triste capítulo do conflito que já deixou milhares de mortos na região: só nos últimos dias, foram 90 vítimas fatais – 83 palestinos, entre eles 17 crianças, e sete israelenses. O tema divide as redes sociais, e muitos evitam se posicionar por falta de conhecimento ou medo de retaliações. Não é o caso de celebridades que nutrem alguma relação com a região, como a israelense Natalie Portman e as irmãs Gigi e Bella Hadid, de família palestina.

    Foi Gal Gadot, no entanto, que virou o expoente da controvérsia: a intérprete da Mulher-Maravilha foi o assunto mais comentado do Twitter na quarta-feira, 12, depois de compartilhar uma mensagem de apoio a Israel. “Meu país está em guerra. Eu me preocupo com os meus amigos, a minha família e o meu povo. Israel merece viver como uma nação livre e segura. Nossos vizinhos merecem o mesmo”, diz um trecho da publicação no Instagram, especialmente criticada pelo distanciamento do termo “vizinhos” ao designar os palestinos.

    A escalada da tensão na região reacendeu posicionamentos antigos na internet, como uma postagem de Gal em 2014 em que a atriz aparece rezando pelos militares ao lado da filha — na ocasião, a ocupação de Gaza acabou com 2.251 palestinos mortos, entre eles 1.462 civis, contra 67 soldados e seis civis israelense. “Estou enviando meu amor e orações para os meus compatriotas, especialmente para todos os meninos e meninas arriscando a vida para proteger o meu país dos atos horríveis do Hamas”, escreveu ela, fazendo menção ao grupo radical que controla Gaza. O Hamas também foi o responsável por lançar mísseis contra Tel Aviv nos últimos dias, depois que uma decisão da Suprema Corte sobre despejos de palestinos e conflitos em uma mesquita iniciaram a onda de violência na região – respondida por Israel com uma série de bombardeios aéreos e a invasão da Faixa de Gaza.

    Não há, no entanto, nenhuma surpresa no posicionamento de Gadot. Nascida e criada em uma cidade próxima a Tel Aviv, a atriz vêm de uma família judia: o avô materno é um sobrevivente de Auschwitz, que viajou para o território depois de perder a família nos campos de concentração. Em entrevista ao site Totally Jewish, exaltou as raízes: “Cresci em um ambiente familiar muito judeu e israelense então minhas origens são importantes para mim”, declarou ela, que foi coroada Miss Israel aos 19 anos. Pouco depois, Gal ainda serviu por dois anos o Exército Israelense, obrigatório para todos acima dos 18 anos, e afirmou que a experiência não foi assim tão difícil. “Em Israel, servir [ao exército] faz parte do que é ser um israelense. Você precisa retribuir o Estado então oferece dois ou três anos do seu tempo. Você abre mão da sua liberdade, mas aprende disciplina e respeito”, contou à revista Glamour. A experiência militar, inclusive, ajudou a atriz a conquistar seu papel em Velozes e Furioso, porque o diretor gostou do seu “jeito com armas”.

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    Ensaio de Gal Gadot
    Ensaio de Gal Gadot com vestimenta militar (Pinterest/Reprodução)

    Também nascida em Israel, Natalie Portman é constantemente usada como contraponto a Gadot. A atriz, embora tenha se mudado para os Estados Unidos ainda criança, sempre manteve uma relação próxima com a terra natal. Em 2018, porém, ela se recusou a comparecer a uma cerimônia israelense em que receberia uma premiação de 1 milhão de dólares, apelidada de “O Nobel Judeu”, para não endossar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Na época, depois de certa controvérsia, ela justificou que não apoia a campanha de boicote a Israel, mas é contrária à sua liderança e a forma com que os palestinos estão sendo tratados. “Israel foi criado como um paraíso para refugiados do Holocausto, mas os maus-tratos daqueles que sofrem com as atrocidades atuais simplesmente não estão de acordo com meus valores judaicos”, declarou.

    Com os recentes ataques, a atriz voltou a se posicionar: na segunda-feira, 10, compartilhou em seu Instagram uma publicação de Viola Davis que explica a situação de Sheikh Jarrah — a área de maioria cristã e muçulmana de Jerusalém Oriental, alvo de uma decisão de despejo de Palestinos por parte da Suprema Corte. “Israel vê Jerusalém como sua capital unificada e diz que todos os residentes são tratados igualmente, mas os moradores de Jerusalém Oriental têm direitos diferentes se são judeus ou palestinos”, diz um trecho.

    Natalie Portman
    Natalie Portman no filme ‘Aniquilação’ (Paramount Pictures/Divulgação)

    Em resposta a Natalie, o ator e produtor israelense Aki Avni postou foto ao lado da atriz com a frase: “não é mais minha amiga. Não é mais nossa amiga”. Na legenda em hebraico, ele critica Natalie e a acusa de propagar uma “narrativa de ódio” contra Israel. “Hoje você contou uma narrativa distorcida sobre a história do Estado de Israel por meio do Sheikh Jarrah. Em 2018, você se recusou a receber um prêmio porque ‘não queria expressar apoio a Benjamin Netanyahu’. Que desculpa esfarrapada! Você simplesmente não quer mostrar nenhuma conexão com Israel, e ainda diz que ama este país?”, disparou ele.

    Já o ator Mark Ivanir, que participou de filmes como A Lista de Schindler, O Bom Pastor e tem várias aparições em séries americanas, escolheu uma abordagem mais conciliadora. “Eu queria viver em um mundo em que é fácil separar o bem e o mal e as coisas são preto no branco com unicórnios cor de rosa no meio. Onde um infográfico conseguisse descrever com clareza décadas de um longo conflito e ativismo nas redes sociais realmente resolvesse problemas e tornasse o mundo um lugar melhor”, repostou na rede, indicando um artigo do The New York Times para que as pessoas se informem sobre o conflito.

    Do lado palestino, as modelos Gigi e Bella Hadid também usaram as redes sociais para se posicionar. As duas são filhas de Mohamed Hadid, um empresário palestino que deixou o país ainda criança com a família durante a Guerra de 1948. “Nós nos tornamos refugiados na Síria e perdemos nossa casa para uma família judia que abrigamos”, contou em 2015.

    Bella fez uma série de postagens no Instagram apontando as dificuldades dos palestinos que ainda moram na região, mas também disse que não aceitaria ódio aos judeus. “Isso é sobre humanidade, não sobre religião. É sobre liberdade na Palestina” disse ela. Já Gigi, compartilhou uma postagem da irmã com a mensagem: “Você não pode advogar por igualdade racial, pelos direitos LGBT e das mulheres, condenar a corrupção, regimes autoritários e outras injustiças e escolher ignorar a opressão do povo palestino. Você não pode escolher quais direitos humanos valem mais”.

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