Há quinze dias, o cineasta baiano Aly Muritiba chegou aos Estados Unidos para a divulgação de Deserto Particular. O filme foi o eleito pela Academia Brasileira de Cinema para tentar uma vaga no Oscar 2022. Os esforços de Muritiba fazem parte de uma estratégia de marketing de “corpo a corpo” com sessões especiais para membros votantes da Academia de Hollywood, com direito a debates com o cineasta ao subir dos créditos. Elogiado e premiado em festivais, de Veneza a Tel Aviv, Deserto Particular, porém, enfrenta alguns gigantes no caminho.
A tática usada para prever os possíveis indicados e ganhadores do Oscar, claro, não é uma ciência exata. Mas, na categoria de melhor filme internacional, os pontos ficam mais evidentes quando somados os prêmios conquistados por cada título em festivais no mundo e o nome do diretor. Assim, disparam na frente o iraniano Asghar Farhadi e o italiano Paolo Sorrentino – ambos já dirigiram filmes vencedores do Oscar: A Separação e A Grande Beleza, respectivamente. Farhadi entra na competição este ano com A Hero, vencedor do prêmio do júri em Cannes; e Sorrentino, com o excepcional A Mão de Deus, que também levou o júri, mas em Veneza.
Correndo paralelamente aos dois medalhões do cinema estão três filmes escandinavos muito elogiados pela crítica americana: The Worst Person in the World, do norueguês Joachim Trier; o documentário Flee, do dinamarquês Jonas Poher Rasmussen; e Compartment No. 6, do finlandês Juho Kuosmanen. Também aparecem bem cotados o japonês Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi, eleito melhor roteiro em Cannes, e o polêmico francês Titane, de Julia Ducournau, vencedor da Palma de Ouro em 2021.
Deserto Particular, contudo, não está fora do páreo. No dia 21 de dezembro, a Academia americana divulga os quinze filmes pré-selecionados para a categoria. O brasileiro está entre as apostas da revista especializada Variety para entrar na chamada shortlist. A última vez em que o Brasil entrou nesta lista foi em 2008, com O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger. Se ficar entre os quinze, Deserto Particular ganha novo fôlego na disputa e pode chamar a atenção de novos votantes, antes de os cinco selecionados serem anunciados juntamente com os demais indicados no dia 8 e fevereiro. A cerimônia acontece em 27 de março.
A última vez que o país foi indicado ao Oscar de melhor filme internacional foi com Central do Brasil, em 1999. Antes, disputaram a estatueta O Que É Isso, Companheiro?, em 1998; O Quatrilho, em 1996; e O Pagador de Promessas, em 1963. Vale lembrar que o maior número de indicações nacionais no Oscar se deu com Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, que concorreu em quatro categorias, em 2004 – mas não para melhor filme internacional.