Em janeiro de 2015, o adolescente John Smith caiu em um lago congelado em Lake St. Louis, pequena cidade no interior do Estado do Missouri, nos Estados Unidos. Apesar de ter sido rapidamente socorrido pelos bombeiros locais, ele ficou submerso por quinze minutos. Levado ao hospital, foi dado como morto após 45 minutos sem pulso. Inconformada, a mãe adotiva de John, Joyce Smith, gritou uma oração aos prantos ao lado do corpo até ouvir o inesperado: a pulsação do menino voltar.
A sequência que acontece entre o afogamento, o resgate e o momento da prece é a mais intensa de Superação – O Milagre da Fé. O filme soma no Brasil 15 milhões de reais em bilheteria e 1,1 milhão de espectadores em duas semanas em cartaz — número impulsionado pela popularidade que o longa ganhou após ser visto pelo presidente Jair Bolsonaro. Para além da inesperada história inspirada em fatos, a produção ganha força pela boa atuação de Chrissy Metz, atriz conhecida pelo também bom trabalho na série This Is Us, e pela delicada direção de Roxann Dawson. As credenciais da diretora americana são pomposas. Roxann conduziu episódios de séries como House of Cards, The Americans, Bates Motel e Agentes S.H.I.E.L.D. da Marvel — para citar alguns.
Em entrevista a VEJA, a cineasta fala da experiência com o filme e com Chrissy, com quem também trabalhou na série dramática da Fox, confira:
Como se envolveu com o filme? Minha empresária me mandou o roteiro. Eu não conhecia a história, não sabia que era real, e fiquei impactada. Então fui checar na internet para ver se realmente tinha acontecido e encontrei a cobertura de diversos jornais e vídeos com a família. Em seguida, liguei para minha empresária e disse que queria muito dirigir essa história.
Passou um tempo com a família? Sim, antes de escolher as locações para o filme, passei um fim de semana com eles. Almoçamos juntos, fiquei um tempo na casa em que eles moram, fomos à igreja que eles frequentam. Também visitei o hospital onde John foi atendido, assim como os bombeiros que responderam ao chamado inicial. Queria saber a história do ponto de vista de outras pessoas. Foi importante mergulhar na realidade daquela comunidade. Foi aí que surgiu minha inspiração.
O que mais chamou sua atenção na conversa com essas pessoas? Para além de um milagre ter acontecido, o que me marcou foi o envolvimento de toda uma comunidade. Foram muitas pessoas trabalhando rapidamente no resgate dele. Os bombeiros que tiraram John da água não tinham esperança de que ele sobrevivesse. Os médicos insistiram em ressaltar como o caso desafiava qualquer histórico da medicina. E todos ainda ficam muito emocionados ao falar sobre o assunto. Foi essa comunidade que me fez perceber que a história não era só sobre um milagre, mas sim sobre as pessoas em torno do milagre.
Você segue alguma religião? Sou católica.
A família e a igreja retratadas são evangélicas. Foi muito diferente para você entrar nessa atmosfera? Não, pois sou uma contadora de história. Trabalho no meio há vinte anos. Esta é mais uma história, mas que tinha que ser contada de maneira honesta e fiel ao que aconteceu. A fé e a religião são parte intrínseca da trama. Mas ela não começa assim. Tudo começa com uma emergência que precisa ser respondida por humanos.
Sua fé mudou depois do filme? Acho que minha fé ganhou uma nova força. Foi um milagre tirar este projeto do papel. E muitos pequenos milagres aconteceram ao longo da produção. A conexão que criamos na equipe foi especial e diferente. Depois, tive o retorno de pessoas que trabalharam no filme, dizendo quanto foram tocadas pela história que estavam contando. Foi uma experiência profunda, que reforçou minha fé.
Qual cena foi a mais intensa para vocês? A oração de Joyce, que traz John de volta à vida, é uma cena fundamental. O filme, na verdade, começa ali. Era importante que ela ficasse perfeita. No dia da gravação, todas as pessoas no set ficaram boquiabertos com a atuação da Chrissy. Senti a presença de Deus no set naquele dia.
Os ditos filmes de fé têm alcançado bons resultados nas bilheterias. O fato de eles usarem atores e diretores com experiência secular, de fora do meio religioso, conta para esse sucesso? Desde o primeiro dia, nossa intenção era fazer um bom drama inspiracional. Sem julgamentos, sem doutrinação. Qualquer pessoa, de qualquer religião, pode se sentir tocada por este filme. Não queremos converter ninguém. O filme só tem por função inspirar. E, quem sabe, nos dar uma nova noção do poder da fé e do poder da comunidade.
Chrissy Metz é, sem dúvida, uma potência no filme. Como foi a escolha dela para o papel? Na verdade, era um ultimato. O filme só seria feito se ela aceitasse o papel. Os estúdios pediram isso. Era uma escolha absoluta. Por sorte, ela disse sim. Senão, não haveria um filme hoje.
Como foi trabalhar com ela? Depois, voltei a dirigi-la, em um episódio de This Is Us. Foi muito engraçado, pois ficamos próximas durante o filme, criando aquela personagem. De repente, nos vimos fazendo outra personagem e outra história completamente opostas. Ela é bondosa e acessível. Uma atriz e uma pessoa extraordinária. Só tenho coisas boas para falar sobre a Chrissy.