No dia 4 de julho, feriado que celebra a independência dos Estados Unidos, o rapper Kanye West surpreendeu a todos com um tuíte afirmando que concorreria à presidência americana nas eleições deste ano. Em entrevista à revista Forbes, nesta quarta-feira 8, o rapper detalhou seus planos políticos, esclarecendo que concorrerá de maneira independente. Mas ressaltou que o faria como um republicano, caso Donald Trump não estivesse na disputa – e colocou-se como uma espécie de bastião da cristandade.
Esta não é a primeira vez que o cantor ensaia uma candidatura. Há algum tempo, West afirmou que concorreria em 2024, mas antecipou sua entrada na disputa seguindo supostos “sinais divinos” – segundo ele, entrará no páreo para vencer, mas, se esta não for a escolha de Deus, ainda tentará em 2024. A coisa toda, aliás, assustou pelo grau de fundamentalismo do cantor. West declarou-se “pró-vida” e chegou a afirmar que instituições como a Planned Parenthood, que fornece apoio financeiro para o aborto seguro nos Estados unidos, onde o procedimento é legalizado, seriam uma suposta “obra de supremacistas brancos” para trazer o “inimigo” ao país.
Questionado sobre a situação do coronavírus, West disse que é preciso “parar de zangar a Deus” e rezar pela liberdade. Já a vacinação, em sua visão, nada mais é do que um plano para corromper a sociedade. “É a marca da besta. Eles querem colocar chips dentro de nós e fazer todo o tipo de coisa que nos impeça de atravessar os portões do paraíso”, afirmou.
Em outro momento de piração, ele prometeu, se eleito, proibir produtos químicos nos desodorantes e pastas dentes – sim, pois eles afetariam a “nossa habilidade de estar a serviço de Deus”.
Embora as palavras de West pareçam delirantes até para alguns religiosos, sua inclinação cristã não é uma novidade. Seu último álbum, lançado em 2019, foi intitulado Jesus is King (Jesus é o Rei, em tradução livre), e é uma espécie de gospel descolado. Ao contrário da maioria de seus companheiros do hip-hop, West posicionou-se ativamente como um apoiador convicto de Donald Trump. E, embora diga-se decepcionado com o presidente e descreva seu mandato como “uma grande bagunça”, afirma que o magnata foi o primeiro líder americano em anos a permitir que Deus fizesse “parte da conversa”.
Há quem diga, inclusive, que a candidatura de West na verdade pode ajudar Trump a se reeleger. Isso porque o rapper pode angariar parte do eleitorado de Joe Biden, o candidato democrata no páreo (e ex-vice-presidente de Obama). West, no entanto, considera que assumir que todos os negros deveriam votar em democratas para não dividir votos é uma forma de racismo, e acusa o partido de ameaçá-lo. “É isso o que eles estão fazendo com o meu povo: ameaçando-o emocionalmente ao ponto em que um homem branco diz a um negro que ele não é realmente negro se não votar nele”. West também opinou sobre Biden, menosprezando o adversário ao dizer que a “América” precisa de pessoas especiais na liderança. “Joe Biden não é especial”, afirmou ao comparar o candidato a Bill Clinton, Obama, Trump e até a ele próprio.
Entre uma afirmação fundamentalista e outra na entrevista à Forbes, West ponderou sobre a brutalidade policial e afirmou que acabar com a violência das forças de segurança está em seus planos. Ele também posicionou-se contra a pena de morte e comentou que Deus está “curando” as questões raciais americanas.
Embora a candidatura tenha sido tratada como piada por boa parte da opinião pública, o cantor parece determinado. Ele conta com a ajuda do magnata Elon Musk, o dono da Tesla e um dos homens mais ricos do mundo, que declarou seu apoio ao rapper pelo Twitter. A vice-presidente também já foi escolhida. West quer a seu lado Michelle Tidball, uma espécie de “coach da vida bíblica” que já declarou não acompanhar o noticiário. As eleições americanas acontecem no dia 3 de novembro – e, como já notou o povo nas redes sociais, Kanye West tem tudo para ser o Cabo Daciolo da América.