Dizer adeus à personagem que interpretou por quase onze anos foi um processo longo para Emilia Clarke, que faz Daenerys Targaryen em Game of Thrones. A última temporada do maior fenômeno atual da televisão estreia no domingo 14, às 22 horas, na HBO, mas, para a atriz de 32 anos, o processo começou em outubro de 2017, quando recebeu os roteiros dos seis derradeiros episódios. “São grandiosos”, disse a atriz em entrevista a VEJA em Londres. “A cada momento, pensava: vai ser a última vez que vou estar nesta locação. Ou neste estúdio. Ou neste cenário. Ou com esta pessoa. Ou fazendo isso. Foi muito emocionante, e aí ainda tinha de fazer meu trabalho.”
Despedir-se das pessoas foi duro, mas dizer adeus a Daenerys, a menina vendida como escrava por seu irmão que depois descobre seu poder e vira a Mãe dos Dragões, também teve alta carga emocional. “Meu relacionamento com Daenerys foi o mais longo de minha vida!”, constatou a bem-humorada atriz, que, para marcar o fim, fez uma tatuagem de dragões.
Confira a entrevista:
Muitos episódios da última temporada têm mais de uma hora. Como foi para vocês atores? Cada temporada foi ficando cada vez maior. E isso significa que exigiu mais e mais de cada um dos envolvidos na produção. A oitava temporada não é exceção. Em todos os níveis, ela requereu mais tempo, mais energia, mais atuação, mais tudo.
Como acha que a personagem mudou sua vida? Quando consegui o papel, tinha acabado de sair da escola de artes dramáticas. Não sabia nada. Mas na escola me ensinaram a fazer o que me era pedido. “Ok, você quer que eu ande pelo fogo, vou fazer isso porque é meu trabalho!” Então Daenerys me forçou muitas vezes a sair da minha zona de conforto e fazer coisas que jamais faria se não fosse por ela. Por exemplo, me levantar e falar numa língua inventada para 300 pessoas. Fora trabalhar muitas horas e atrair muita atenção. É algo que nunca me permiti parar e pensar, a não ser agora.
O que mais admira em Daenerys? Eu gosto que ela não se sente obrigada a se justificar por nada. Só no começo. Ela agora apenas segue em frente, sem precisar procurar as palavras como estou fazendo agora (risos). Ela não está nem aí com o que os outros pensam, e isso é muito libertador de interpretar quando não se é assim.
E em que acha que ela poderia melhorar? Certamente, seu trato com as pessoas. “Não gosto, então você vai morrer!” Talvez ela pudesse negociar alguma coisa ali (risos).
Que característica de Daenerys gostaria de ter? É difícil porque a cada temporada ela ficou mais forte. Mas eu, como Emilia, sempre quis mostrar alguma fragilidade e vulnerabilidade. Uma parte mais humana, porque era a única maneira de compreender seu jeito de pensar. Algumas vezes não concordavam com essa minha tentativa, mas ela foi se tornando um pouco mais parecida comigo. Nas últimas temporadas foi mais como um diálogo entre ela e eu. Então é difícil dizer o que nela eu gostaria de ter. Só seus dragões!
Como acha que a série evoluiu no retrato das mulheres? Porque nesta temporada temos várias personagens femininas na liderança: Daenerys, Sansa Stark em Winterfell, Cersei Lannister no Trono de Ferro. Mas as mulheres desde a primeira temporada eram valentes. Não havia nenhuma florzinha. Acho que do ponto de vista feminista, a narrativa foi sempre esta. Certamente vimos algumas personagens crescerem e ficarem mais fortes. Os criadores da série David Benioff e D.B. Weiss sempre souberam que iam ter muitas temporadas e que podiam explorar as várias facetas das personagens e torná-las interessantes e complexas.
Daenerys é poderosa e maravilhosa. Mas como concilia isso com a nudez das primeiras temporadas? Não acho que sejam coisas mutuamente exclusivas. Contei a história da personagem, e uma parte de sua história é ela ter sido uma escrava, ter sido comprada e sofrido abuso. Isso acontece com muitas mulheres. Mas, no fim, é uma fantasia. É uma história apenas.