Entrevistas de rádio de Elis Regina vão virar documentário e podcast
João Marcello Bôscoli, filho da cantora, já reuniu mais de 25 horas de gravações para o projeto previsto para 2025
Há exatos 40 anos, em 19 de janeiro de 1982, Elis Regina, uma das maiores cantoras do Brasil, morria aos 36 anos. As lembranças daquele fatídico dia ainda são bastante claras na memória de seu filho mais velho, o produtor musical João Marcello Bôscoli, que na época tinha apenas 11 anos. “Eu estava tomando café da manhã, meus dois irmãos, Maria Rita e o Pedro Mariano, brincavam no playground, quando o Samuel (Mac Dowell, advogado e namorado de Elis) chegou no apartamento esbaforido e arrombou a porta do quarto dela. Eu vi quando ele a carregou no colo, desacordada, mas ainda viva, para o hospital. Ninguém me escondeu nada”, disse Bôscoli.
João Marcello é também um dos principais pesquisadores e divulgadores da obra de Elis e revelou com exclusividade a VEJA que está tocando uma nova e ampla pesquisa com rádios brasileiras e estrangeiras, e também com colecionadores, para reunir entrevistas em áudio que sua mãe concedeu. A ideia é lançar em 2025, quando ela completaria 80 anos, um documentário e uma série de podcasts, dirigido por Hugo Prata (o mesmo do filme Elis, de 2015) com imagens e fotografias inéditas onde a própria artista narraria a sua história.
Até o momento, João Marcelo já reuniu cerca de 25 horas de conversas, distribuídas em 70 fitas cassetes, com entrevistas feitas em diversas fases da carreira de Elis. “Além do documentário com imagens de arquivos, faremos também uma série de podcast em que será possível ouvir a história de vida de Elis contada por ela própria. As divulgações de shows em rádios sempre foram muito importantes para os artistas. Eram naqueles momentos que minha mãe respondia às perguntas de maneira mais sincera, mais desarmada, sem se preocupar com as câmeras, sem apoio de imagens, num outro estado de espírito”, explica o produtor.
Antes de 2025, no entanto, outros três projetos sobre Elis Regina também estão previstos para serem lançados entre o fim de 2022 e durante 2023. “A obra da minha mãe é finita, portanto, eu sempre preferi fazer lançamentos espaçados. Um pouquinho de cada vez”, explica. Depois de lançar em 2019 o livro Elis e Eu (clique para comprar), em que ele contava as lembranças que tinha da mãe, João será o personagem principal da série documental, dividida em três episódios, intitulada Elis Por João, que será lançada pela HBO até o fim do ano. Com produção de Marcelo Braga e direção de Lea Van Steen, a série mostrará aparições da artista em programas da Bélgica, França, Portugal, México e Alemanha. “Eu faço um relato bastante emocionado da minha mãe. Fico feliz porque o documentário será exibido em diversos países”, afirmou.
Já os outros dois projetos estão previstos para 2023. Um deles, em fase de finalização, também é um documentário e mostra o registro das gravações do especial Elis & Tom, gravado em 1974, nos Estados Unidos. Produzido por Roberto de Oliveira, o documentário teve como material bruto mais de 3h de vídeo e 4h de áudio. Intitulado Elis & Tom – Só Tinha de Ser com Você, o programa será lançado pelo canal Arte1. Por fim, um dos projetos mais curiosos é a criação de uma história em quadrinhos de Elis Regina, que será feita pelo desenhista Gustavo Duarte, autor de trabalhos para estúdios internacionais como a Marvel e a DC Comics.
Vale lembrar que nos últimos anos outros projetos sobre Elis foram lançados, como um musical, uma série documental e um filme. Recentemente, João Marcello remixou também a música Como Nossos Pais, gravada por Elis no álbum Falso Brilhante. O remix foi feito com a tecnologia Dolby Atmos (chamada no Brasil de Áudio Espacial). O novo padrão sonoro em 3D criado pela Dolby, pode ser ouvida em até doze caixas de sons diferentes e dá a sensação de que se está ouvindo ao vivo a apresentação.
“Evidentemente que a morte da minha mãe não foi um momento bom da minha vida. Mas é um momento fundamental, intenso, forte e repleto de significado. Aquele momento ajudou a desenhar algumas coisas da minha vida profissional, como a minha aversão à adulação e aos interesses escusos que cercam os artistas”, contou João Marcello. “Sou muito grato pelos onze anos que passei com ela e mais feliz ainda por poder continuar falando sobre ela 40 anos após a sua morte”.
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