Em um mundo sem coronavírus, o Iron Maiden faria em setembro, pela enésima vez, um show no Brasil, no festival Rock in Rio, adiado para o ano que vem devido à pandemia. Enquanto isso, seus integrantes seguem em isolamento. Isso não significa que eles estão parados. O guitarrista Adrian Smith, um dos principais compositores da banda (só perde em número de músicas para Steve Harris e Bruce Dickinson), se juntou ao amigo e também guitarrista Richie Kotzen, ex-integrante do Mr. Big e Poison, para lançar o álbum Smith/Kotzen, gravado nas Ilhas Turcas e Caicos em fevereiro de 2020. O trabalho, que conta com nove faixas inéditas, é uma ode ao hard-rock dos anos 1970, repleta de virtuosos solos de guitarras e vocais intercalados pelos dois músicos. De Los Angeles, Adrian bateu um papo por telefone com VEJA sobre o novo disco, solos de guitarras impossíveis, Iron Maiden, Rock in Rio – e, claro, pescaria, a segunda paixão de Smith, depois do rock. Leia a seguir os principais textos:
O álbum Smith/Kotzen é repleto de solos dificílimos de executar. Qual foi o mais difícil que você já tocou na vida?
O solo mais difícil, provavelmente, é algum que eu não consiga tocar. Um solo difícil não significa que ele é o melhor. Eu não gosto de pensar no solo como um obstáculo no caminho. Eu prefiro pensar como algo agradável, em vez de algo que você tenha de superá-lo. Mas, se você quiser, você consegue tocar mesmo os mais difíceis. As coisas que eu fiz com o Richie soaram muito naturais. Um pouco de blues e de rock que crescemos ouvindo. Há cinco anos eu me lancei como cantor-solo. Aprendi a tocar guitarra enquanto eu canto. Eu não conseguia porque precisava me concentrar no instrumento.
Para um artista acostumado a levar 100 000 pessoas a um festival, não poder sair de casa ou fazer shows em decorrência da pandemia é muito difícil?
Richie e eu iríamos fazer alguns shows em abril, mas tivemos de cancelar. Assim como todo mundo. Sentimos falta de fazer shows. Eu não sinto falta de viajar e de viver em hotéis. Tomara que no final deste ano, quando todos estiverem vacinados, possamos sair dessa e retornar à normalidade, porque está muito difícil. Nem tanto para mim, mas para os técnicos e a equipe, que dependem de nós para continuar sobrevivendo. Os pequenos lugares de shows também estão em situação muito difícil. O impacto foi para todos. Passei boa parte do verão em um estúdio escrevendo, praticando e cantando também. Foi um jeito de me salvar.
Você já chegou a um ponto da vida em que pode fazer o que quiser – inclusive pescar, seu grande hobby?
Sim, acho que sim [risos]. Eu estou nessa já faz algum tempo. Posso dizer que sou feliz tocando e criando música. Temos algumas pressões e prazos para cumprir, mas sou jovem para me aposentar. Faço várias coisas de que eu gosto, como esse disco solo. Até escrevi um livro a respeito, Monsters Of River & Rock. Pescar me dá uma paz de espírito. Também descobri lugares incríveis para jogar meu anzol. Mas a música sempre vai ser a minha prioridade.
Pescar é um ato silencioso. Como vê essa dualidade de tocar muito alto nos shows e ter de ficar em silêncio para pescar?
Sou um cara muito silencioso. Tranquilão, mesmo. Pertencer a uma banda permite expressar-se por meio da música. Se você for uma pessoa mais tranquila por natureza, você não precisa dominar a conversação. Não precisa estar gritando e cantando para as pessoas. Funciona para mim. É uma das razões de eu estar na música. Já a pescaria é natural. É só sentar em frente da água e ficar ali contemplando.
Já pescou na Amazônia ou no Pantanal?
Tocamos em Manaus uma vez e eu ia pescar lá, mas estava chovendo. Quero voltar. Talvez algum dia eu retorne à Amazônia para pescar naqueles barcos de pesca. O Brasil tem peixes incríveis. Uma vez eu pesquei em uma das praias do Rio de Janeiro. Foi parte de um documentário sobre o Rock in Rio 2001. Eles me filmaram pescando com algumas pessoas locais. Não pegamos nada, mas foi divertido.
Já contou muita história de pescador?
Histórias de pescadores não são exatamente mentiras. Eles exageram. Esticam a verdade. Diz que pescou um peixe de 1 metro, mas ele tinha 60 cm. Tem muitas dessas histórias no meu livro. Não tenho muitos casos assustadores. Fui pescar em um lago nos Estados Unidos e estava no meio dele, sozinho, quando vi uma cascavel perto do barco. Consegui voltar para a margem. Outra vez, eu encontrei um grande urso negro. Foi bem louco e assustador. Coisas assim aconteceram comigo. E, lógico, tem sempre histórias dos lugares que você visitou e as pessoas que você conheceu.
O Iron Maiden já fez vários shows no Brasil. Existe algo que você aprendeu com os brasileiros que leva para a vida?
O Brasil é muito apaixonado por música e também por futebol. Muito similar com os ingleses. Vocês mostram a sua paixão por futebol de uma maneira maior do que na Europa. Acho que é uma coisa cultural. Eu cresci apaixonado por futebol e música. Então, eu consigo entender essa paixão também. Vocês são fãs apaixonados e nós damos tudo para fazer os melhores shows por aí. Os melhores shows que já fizemos foi no Rock in Rio.
Por falar em Rock in Rio, o Iron Maiden foi uma das primeiras bandas confirmadas para o festival em 2021, adiado para o ano que vem. Você confirma que banda virá no ano que vem?
Acho que é a decisão mais lógica. Nós frequentamos o Rock in Rio desde 1985. Ainda não sei nada oficialmente. Preciso checar. Espero que possamos voltar em 2022.