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Faixa a Faixa: as referências escondidas no novo disco de Bob Dylan

O compositor revisita toda a sua obra em 'Rough and Rowdy Ways', seu 39º álbum de estúdio, e presta homenagens aos artistas que o influenciaram

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jun 2020, 17h12 - Publicado em 19 jun 2020, 16h58

Aos 79 anos, Bob Dylan lançou nesta sexta-feira, 19, Rough and Rowdy Ways, seu 39º álbum de estúdio. É o primeiro disco de inéditas desde Tempest, de 2012, e também o primeiro desde o Nobel de Literatura, em 2016. Com letras que mais parecem poemas musicados, com homenagens a escritores famosos e reflexões sobre a finitude da vida, o novo disco é uma síntese de toda a obra do compositor. A seguir, analisamos cada faixa e apontamos as referências que Dylan colocou nelas:

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I Contain Multitudes

O compositor abre a primeira faixa do álbum com a impactante frase “Hoje, amanhã e ontem também, as flores estão morrendo, como todas as coisas” e segue discorrendo sobre a finitude da vida. O título é uma frase de Walt Whitman, em que ele dizia: “Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou amplo, eu contenho multidões”. A voz de Dylan soa límpida, com as palavras sendo declamadas, acompanhadas por arranjos musicais minimalistas.

False Prophet

Dylan faz aqui um blues suingado que poderia ter vindo lá dos anos 1950 e reflete sobre a vida. Agora, sua voz soa rascante quando ele canta os versos “não me lembro de quando nasci e esqueci de quando morri”. Ele segue dizendo que não é um falso profeta. “Sou o primeiro entre iguais. Atrás de ninguém, O melhor dos últimos. Pode enterrar o resto”.

My Own Version of You

A faixa conta com uma slide-guitar que imprime clima de cabaré à composição. Na letra, Dylan invade um cemitério em busca de partes de corpos para fazer a sua versão ideal de uma mulher, numa referência à noiva de Frankenstein. “Trarei alguém à vida, alguém de verdade. Alguém que se sinta do jeito que eu me sinto… Eu vou fazer você tocar piano como Leon Russell, como Liberace, como o apóstolo São João. Eu tocarei todas as músicas que puder tocar. Vejo você, talvez no dia do julgamento final”.

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I’ve Made Up My Mind to Give Myself to You

Em mais uma canção lenta e triste, Dylan praticamente sussurra a letra. O clima é de lamento ao lançar frases como “sentado no meu terraço, perdido entre as estrelas, ouço guitarras tristes” ou “eu não acho que consigo suportar viver a minha vida sozinho”. Melancólico e inspirado.

Black Rider

Apenas a voz rouca, um violão e uma guitarra, Dylan não canta e, sim, declama um poema sobre um misterioso viajante que aparentemente segue o cantor. Os versos, no entanto, são curtos e grossos. “Deixe-me passar. Abra a porta. Minha alma está angustiada e minha mente está em guerra. Não me abrace, não me elogie, não use seu charme. Vou pegar uma espada e cortar seus braços”. Tenso.

Goodbye Jimmy Reed

Depois de cantar duas músicas extremamente melancólicas, Dylan entrega a faixa mais animada do disco, um blues com bons solos de guitarra, piano, gaita e baixo. A música homenageia o cantor, guitarrista e compositor Jimmy Reed, que morreu em 1976. Nela, Dylan dá adeus ao artista e deseja boa sorte. “Deus esteja com você, meu querido irmão. Se você não se importa com a pergunta, o que lhe trouxe aqui?”, canta.

Mother of Muses

A faixa começa quase como uma canção de ninar em que Bob Dylan suplica para que a mãe das musas mostre sua sabedoria e lhe diga o seu destino. “Coloque-me em pé e me faça andar em linha reta”, canta. Na sequência, ele pede para deitar em seus doces braços amorosos. “Me acorde, me sacuda, me livre do pecado. Me faça invisível como o vento”.

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Crossing the Rubicon

Mais um blues de Dylan. Agora ele se imagina como Júlio César, o célebre general romano que cruzou o rio Rubicão e disse a frase “a sorte está lançada”, dando início ao seu período como ditador. Na faixa, Dylan canta: “Eu cruzei o Rubicão no décimo quarto dia do mais perigoso mês do ano. No pior momento e no pior lugar”. Mais a frente ele lamenta: “A três milhas ao norte do purgatório, a um passo do grande além. Eu rezei para a cruz, eu beijei as meninas e cruzei o Rubicão”.

Key West (Philosopher Pirate)

Nesta faixa Bob Dylan faz uma homenagem à belíssima região de Key West, na Flórida, que no imaginário americano era o lugar de descanso dos piratas e tem navios afundados em sua costa. A canção conta com um discreto e acordeão, conferindo certo clima rústico. Na letra, Dylan afirma: “Key West é o lugar certo para está se você busca imortalidade”.

Muder Most Foul

Esta foi a primeira música revelada do novo álbum. Em uma prova irrefutável da capacidade criativa de Dylan, tem quase 17 minutos e ocupa sozinha o disco 2 do álbum físico. É praticamente um poema musicado e fala do assassinato do ex-presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, em 1963. Sem refrão, a faixa não repete nenhum verso e traz referências a figuras centrais da cultura dos anos 1960 e 1970.

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