Funk in Rio: como o Rock in Rio abandonou o preconceito e abraçou o ritmo
A segunda noite do festival fluminense contou com ritmos populares como funk, trap, hip-hop e rap com shows que arrastaram multidões
Em 2017, em entrevista a VEJA, o criador do Rock in Rio, Roberto Medina, comentou a ausência do funk e da Anitta no festival daquele ano. “Simplesmente não nos programamos para incluir funk no Rock in Rio”, ele disse na época. Cinco anos depois, quanta diferença. Embora a cantora carioca não tenha sido escalada para esta edição (ela já participou de duas edições do Rock in Rio Lisboa em 2018 e 2022 e também na edição de 2019 no Rio de Janeiro), o festival definitivamente mudou a chavinha com relação aos ritmos mais populares.
A segunda noite do festival, neste sábado, 3, foi dominada pelo trap, funk e rap. O público, formado majoritariamente por jovens, peregrinava de palco em palco para acompanhar nomes que seus pais, certamente, nunca ouviram falar, como MC Poze do Rodo, Bielzin, Teto, Xamã, Brô MC’s, Papatinho, L7nnon, MC Hariel, MC Carol, PK e Don Juan. Isso, sem contar, do palco Favela, um espaço criado para mostrar os artistas da periferia e que contará com artistas populares em todos os dias de evento.
A mudança mais brusca de chavinha (e uma vitória de marketing para o Rock in Rio) foi o histórico show que os Racionais MC’s fizeram. Um dos grupos de rap mais importantes do Brasil – e avesso aos holofotes e a festivais como esses – teve sua performance transmitida ao vivo no Multishow para todo o país. Com letras contundentes sobre a realidade da periferia, o grupo amplificou a sua voz para todo o Brasil. No palco, eles exibiram no telão fotografias das vítimas de violência no Rio de Janeiro, inclusive da ex-vereadora da capital, Marielle Franco. Em outro momento, exibiram ainda a foto do Carlos Marighella durante a música Marighella (Mil Faces De Um Homem Leal). O festival contou ainda com o show do rapper Criolo, outro expoente do rap paulistano, com a participação especial da cantora cabo-verdiana, Mayra Andrade.
No palco Mundo, o principal do festival, a escalação privilegiou a música eletrônica e o trap, com shows de Alok, Jason Derulo, Marshmello e Post Malone – este último conhecido por misturar o trap e o rap com rock e R&B em composições para lá de introspectivas.
Sim, o Rock in Rio já não é mais rock há muitas edições. Que bom. Deixar de escalar para a programação ritmos populares, feitos por jovens nascidos na periferia e com letras que falam sobre suas realidades era um tipo de preconceito que não deveria ter mais lugar no Brasil. Acima de tudo, são ritmos com um público fiel e consumidor.
A próxima fronteira é o sertanejo, mas até isso já está mudando. João Gomes, o jovem cantor pernambucano de piseiro, se apresentará neste domingo em um palco alternativo montando pelo Itaú. Quem sabe o ritmo não ocupe os palcos principais no futuro? Quem circulou pela Cidade do Rock no último sábado e viu a plateia cantando e se divertindo a cada nova atração comprovou que o Rock in Rio pode ser, sim, “Funk in Rio”. E está tudo bem.
Que show é esse, meus amigos! 🤯🤯#RacionaisNoMultishow #RockinRioNoMultishow pic.twitter.com/4ml7r1zE0M
— Multishow 🤟 (@multishow) September 4, 2022