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Harmonização facial: nova moda entre famosas que buscam a selfie perfeita

Maçãs salientes, queixo pontudo, lábios com volume idêntico: como é o tratamento mais adotado por celebridades para atenuar os sinais de envelhecimento

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h22 - Publicado em 19 jul 2019, 06h30

No passado, ter um rosto perfeito exigia um DNA privilegiado ou a ação de um bisturi talentoso. Isso mudou. O código genético ainda tem seu papel, mas agora é o dermatologista que, aos poucos, vem tomando o lugar do cirurgião plástico como realizador de sonhos. A oferta é mais do que tentadora — procedimentos não invasivos que deixam cada cantinho do rosto em perfeito equilíbrio. Em seu conjunto, o cardápio de opções apresenta-se sob uma expressão sedutora: harmonização facial. Esse novo ideal cosmético consiste basicamente no uso da toxina botulínica e do ácido hialurônico para aumentar o volume dos lábios, levantar as sobrancelhas, deixar os maxilares protuberantes, atenuar a perda de volume das maçãs, preencher o bigode chinês e arrebitar o nariz. A promessa é proporcionar uma face mais jovem e, claro, harmônica — embora em casos extremos, como o da celebridade americana Kim Kardashian, cujo rosto já não tem nada original de fábrica, o resultado se afaste (e muito) da harmonia almejada.

Entre as intervenções mais desejadas, o volume nos lábios é o campeão de pedidos nos consultórios dermatológicos. Na casa dos 30, quase 40 anos, beldades como Cleo Pires e Gisele Bündchen já recorreram à técnica. Será que, de fato, era necessário? Por que mulheres tão bonitas acham que precisam de retoques? Uma das explicações, sem dúvida, é a proliferação das redes sociais. A exposição contínua no Facebook, Instagram e afins exige de pessoas que vivem da própria imagem um apuro estético permanente, a necessidade de parecerem sempre belas. Como, na era das selfies, elas são referência para suas seguidoras, tal prática acaba ganhando um impulso ainda maior. “A rede social nos deixa mais expostos. Daí a preocupação em tornar essa imagem melhor”, explica Fábio Saito, diretor de educação médica da Allergan, a maior fabricante de ácido hialurônico e toxina botulínica do mundo. Divulgada no mês passado, uma pesquisa da própria Allergan com entrevistados em dezoito países ajuda a entender a relação entre o desejo de um rosto perfeito e as redes sociais. O levantamento revela que os millennials já não questionam se devem fazer um procedimento estético — a única questão é quando rea­lizar essa intervenção. Outro dado curioso: dos que pensam em aperfeiçoar suas formas, 42% usam apps para modificar a própria imagem. Deve ser por isso que mesmo jovens atrizes como Marina Ruy Barbosa e Luísa Sonza, na casa dos 20 e poucos anos, já adotaram o tratamento.

Evidentemente, o avanço da medicina tem sido fundamental para a expansão da técnica. Há dez anos, os processos de injeções com preenchimentos resultavam em inchaços e duravam menos. O ácido hialurônico, então, era absorvido em seis meses — hoje seus efeitos duram até dois anos. As áreas de atuação também se multiplicaram. Ou, para ficar em um termo dermatológico: avolumaram-se. Para dar projeção aos maxilares, deixando-os marcados à la Taylor Swift, são injetados 4 mililitros de ácido hialurônico em cada lado. Na boca, o recomendado é colocar 1 mililitro na parte superior e outro na inferior (para além disso, corre-se o risco de que a boca se pareça ao bico de um pato). Preço do procedimento: 8 000 reais. Uma harmonização completa em um consultório de alto padrão chega a 30 000 reais.

As novas intervenções coroam uma linha progressiva da medicina cosmética, conquistada com altos investimentos da indústria da beleza. O primeiro preenchedor foi a gordura, utilizada desde os anos 60 na cirurgia plástica para a técnica de lifting. Tinha sérias limitações — irregularidades na pele e aumento de volume se o paciente ganhasse peso depois da cirurgia. O segundo preenchedor foi o colágeno, extraído de animais como o porco e o boi. O resultado durava míseros três meses. Nos anos 90, começa a revolução: o uso do ácido hialurônico como preenchedor de rugas e de vincos (como o chamado bigode chinês). Já neste século, os produtos passaram não só a encher fissuras como também a criar volume — mas com um triste efeito colateral: ao “murcharem”, os preenchedores deixavam as mulheres com cara de buldogue. Hoje, para evitarem esses problemas, os dermatologistas têm injetado versões menos densas e mais maleáveis diretamente no osso, obtendo um contorno firme sem dar volume excessivo à pele. “Em vez de criarmos opulência, causamos uma elevação nos tecidos”, diz o dermatologista Jardis Volpe, que tem pacientes como Luciana Gimenez e Maria Fernanda Cândido.

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Essa linha evolutiva, no entanto, teve tropeços e desvios. Talvez o mais notório tenha sido um produto que até recentemente era considerado um rejuvenescedor milagroso: o metacrilato. Fabricado no Brasil, esse derivado de petróleo prometia a chamada “bioplastia”: a transformação do formato do rosto com um material maleável e transparente. Originalmente, o metacrilato era um implante ósseo, mas, em um desvio de finalidade, foi empregado para criar lábios carnudos e maçãs levantadas. Por não ser absorvido pela pele, é possível que o material cause mutações e rejeições de toda sorte. Aplicado em tecidos moles, pode resultar em nódulos, granulações e, o mais grave, infecções. A cantora ­Gret­chen e a ex-primeira-dama do sertanejo Zilu Camargo enfrentaram problemas devido ao uso do metacrilato. Zilu passou por mais de dez cirurgias para remover o material, nem sempre com sucesso, e chegou a ser internada com um quadro de infecção generalizada.

As mulheres são, claro, maioria nos consultórios, mas os homens também estão aderindo à harmonização. Casado com uma dermatologista, o ator Daniel Rocha, 28 anos, repaginou recentemente seu visual. Ele fez o procedimento de preenchimento da boca e tornou seu queixo e maxilares mais protuberantes. O efeito, que deixa o rosto mais masculino, é o grande pedido dos homens nas clínicas de estética.

Embora as fotos de “antes e depois” mostrem evidentes mudanças no rosto das famosas, muitas negam ter se submetido à harmonização. Cleo e Marina Ruy Barbosa juram pela Nossa Senhora do Preenchimento que sua boca é natural. Luísa Sonza admite ter mexido “apenas” nos lábios. Um maquiador que já empetecou todas elas várias vezes atesta: os traços perfeitos (ops, harmônicos) são milagre do ácido hialurônico. Cada uma faz o que quer do próprio corpo, claro. Só é feio mentir sobre como se chegou à selfie dos sonhos.

Publicado em VEJA de 24 de julho de 2019, edição nº 2644

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