Quando duas estrelas de cinema travam um embate judicial por difamação, seus trabalhos em grandes franquias — e estúdios maiores ainda — também entram em jogo. É o que evidencia a longa disputa entre Johnny Depp e a ex-esposa Amber Heard. A conexão entre Hollywood e a vida pessoal de seus astros é antiga, mas, agora, se tornou inseparável: com o papel das redes sociais e a obstinada cultura do cancelamento, somado a um julgamento midiático,a briga entre o ex-casal expõe a relação tênue de franquias que movimentam bilhões de dólares e a vida privada de dois indivíduos.
Nesta terça-feira, 24, um executivo da DC Films, divisão da Warner Bros., foi convocado pelo tribunal para esclarecer alguns pontos relacionados à participação de Heard na franquia Aquaman. Ao longo do processo, a atriz alegou que, por causa da repercussão da denúncia de violência doméstica contra Depp, ela quase perdeu o papel na sequência Aquaman 2 e não conseguiu renegociar seu pagamento. Segundo o presidente da DC Films, Walter Hamada, chamado para depor pelos advogados de Depp, as acusações feitas por Heard não influenciaram as decisões de elenco no longa. Houve, de fato, um atraso para definir o papel, já que o estúdio considerou substituir a personagem de Heard, Mera, interesse amoroso do herói aquático. O motivo, diz ele, seria a falta de química entre a atriz e o companheiro de cena, Jason Momoa. Hamada afirma que a química foi criada no primeiro filme durante a pós-produção com a “magia cinematográfica” e escolhas de trilha sonora.
Apesar de ter recebido o valor que constava no contrato original, Heard deveria ter conseguido renegociar um aumento, devido ao sucesso do primeiro filme — de acordo com o testemunho da agente da atriz, Jessica Kovacevik. Outra alegação é de que seu papel teria sido consideravelmente reduzido de um filme para o outro. Questionado, Hamada justificou que o papel de Heard permaneceu o mesmo desde seu desenvolvimento em 2018, e que o segundo filme — programado para 2023 — foi concebido como uma comédia de amigos entre o personagem de Momoa e Patrick Wilson, o Rei Orm.
Ao longo do julgamento, o polêmico corte de Depp da franquia Piratas do Caribe pela Disney também foi um tópico que perdurou. Os advogados do ator argumentaram que sua demissão do sexto filme da série foi motivada pela publicação do artigo sobre violência doméstica assinado por Heard no jornal The Washington Post. Em uma entrevista recente a uma publicação britânica, o produtor Jerry Bruckheimer comentou que, por enquanto, não há vislumbre da volta de Depp ao papel do Capitão Jack Sparrow.