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‘Humor existe para provocar’, diz pastor consultor do Porta dos Fundos

Caio Fábio foi um dos religiosos que serviram de consultores para o roteiro do novo especial de Natal do grupo, a pedido de Fábio Porchat

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 mar 2021, 16h10 - Publicado em 10 dez 2020, 12h46

Aos cristãos que optam por assistir sem pudores aos especiais de Natal do Porta dos Fundos, um detalhe salta aos olhos: o conhecimento bíblico do roteirista. Em entrevista a VEJA, Fábio Porchat conta que é leitor do livro sagrado cristão e que, próximo ao período de escrever novos especiais, se aprofunda com mais dedicação em alguns trechos. Para a sátira deste ano, Teocracia em Vertigem, que chega ao YouTube nesta quinta-feira, 10, Porchat afirma que releu o Novo Testamento. Mas também passou o roteiro pelo crivo dos pastores Henrique Vieira e Caio Fábio, em busca de uma consultoria histórica e religiosa — e para evitar termos sensíveis, ou “gatilhos”, como o humorista prefere chamar.

Amigo de Porchat, Caio Fábio conta a VEJA que fez comentários pontuais no roteiro, mas não apontou nada que merecesse uma mudança radical, nem acredita que esse seria a postura correta. “Minha leitura foi para perceber se havia algo que poderia ser excessivo para a alma evangélica mediana. Pois, se formos pela alma cristã ultrassensível, então não se faz humor. O humor existe para provocar”, diz o pastor. Segundo ele, com frequência, os vídeos do Porta dos Fundos são usados em suas aulas. “São textos metafóricos e humanos extraordinários”, diz. O desconforto entre os alunos, aliás, só costuma acontecer com o excesso de palavrões ditos pelo grupo. “Por isso não dá para passar os esquetes do Porta numa igreja”, afirma, rindo.

Segundo Porchat, a contribuição dos religiosos ajudou a dar cara ao filme. Um exemplo é a composição do personagem Simão, o homem que teria ajudado Jesus a carregar a cruz, vivido pelo rapper Emicida. “O pastor Caio me deu detalhes sobre a colônia grega Cirene, cidade de Simão. Eu não sabia que ficava na África. Foi então que decidimos que ele deveria ser interpretado por um homem negro.”

Sobre os ataques sofridos pelo grupo no ano passado, quando a sede da produtora foi alvo de um atentado a bomba, no Rio de Janeiro, Caio Fábio critica: “É preciso estar mergulhado no mau humor e no preconceito para se ofender com um programa satírico. É uma mentalidade religiosa perigosa”.

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