Em cartaz nos cinemas de São Paulo ao lado de Jessica Chastain em A Grande Jogada, o inglês Idris Elba causou nesta quinta-feira, na Berlinale, um rebuliço que nenhum medalhão americano de Hollywood presente chegou perto de provocar: tinha fã-clube com faixas escritas “We love you, Idris” na frente dos cinemas onde seu primeiro longa como diretor, Yardie, está sendo exibido.
Há uma semana, a eletrizante versão dele para o romance de Victor Headley teve uma primeira projeção no festival alemão, mostrando a influência estética de Cidade de Deus sobre seu modo de filmar. Esperava-se que ele estivesse aqui no dia (sexta passada), mas compromissos com a teledramaturgia (ele protagoniza a série Luther, hoje no menu da Netflix; e prepara In The Long Run para a Sky 1, da Inglaterra) atrasaram sua chegada, o que deixou o público alemão jururu com a sua ausência.
Cidade de Deus ensinou ao mundo o que é autenticidade: aqueles rapazes e moças espelham aquele local, aquela realidade
Idris Elba
Agora, a cidade vai à forra, num sinal da popularidade desse britânico de 45 anos de descendência africana (seu pai é de Serra Leoa; a mãe, de Gana). Ele virou um símbolo político na discussão da representatividade negra no audiovisual.
“Dirigi um filme com jovens que são negros, mas busquei uma questão universal que vai além da cor: a aprendizagem para se lidar com um trauma. Não defino o cinema por cor da pele e sim pela força das histórias que desejo contar”, diz Elba, elogiando o cult de Fernando Meirelles.
Dali veio a base visual de Yardie, cuja trama gravita entre a Jamaica de 1973 e os submundos da Londres de 1983, conforme acompanha o amadurecimento de D. (Aml Ameen), um traficante que busca no crime se vingar da morte de seu irmão. “Cidade de Deus ensinou ao mundo o que é autenticidade: aqueles rapazes e moças espelham aquele local, aquela realidade”, admite Elba, que exibiu o longa em Sundance, em janeiro, antes de entrar na mostra Panorama de Berlim.
Ao longo de cenas de perseguição e tiroteio que impressionaram a Berlinale, Yardie mostra tradições religiosas da Jamaica ao registrar os confrontos de D. com o fantasma de seu irmão morto, que vai segui-lo pelas confusões em que ele se mete com um chefão do tráfico na Inglaterra e com sua namoradinha, hoje uma cristã fervorosa, Yvonne (Shantol Jackson).
“A vida de D. se passa em ambientes muito masculinos. Precisava ter o cuidado de não descuidar da representação do feminino. E, como as regiões de periferia da Jamaica, de onde D. vem, são recheadas por mulheres muito fortes e guerreiras, quis trazer uma personagem de lá, para nortear seu caminho”, diz Elba, cotado para ser o primeiro James Bond negro, substituindo Daniel Craig num futuro 007.