O escritor Ignácio de Loyola Brandão, de 82 anos, foi escolhido por unanimidade para ocupar a cadeira de número 11 da Academia Brasileira de Letras (ABL), nesta quinta-feira, 14. Ele ocupará o posto que foi do sociólogo e cientista político Helio Jaguaribe, morto em setembro do ano passado, aos 95 anos.
A cadeira 11 já foi ocupada anteriormente por Lúcio de Mendonça (fundador), Pedro Lessa, Eduardo Ramos, João Luís Alves, Adelmar Tavares, Deolindo Couto, Darcy Ribeiro e Celso Furtado.
Apesar de não ter sido uma candidatura única, todos sabiam que Loyola Brandão seria o escolhido com votação absoluta. Em entrevista a VEJA, o escritor disse que, apesar de saber de antemão da vontade da maioria em elegê-lo para a cadeira, ficou “atordoado” com a notícia. Da festa realizada em sua homenagem, nesta quinta-feira, 14, no Rio de Janeiro, ele contou que ainda está se acostumando com a ideia do fardão.
“É razão de muito contentamento. Apesar do momento que estamos vivendo”, disse o novo imortal. “Vivemos um momento em que é difícil olhar a realidade. Vemos presidentes perdendo as mentes, os corações e outros órgãos internos talvez. Mas, agora, quero celebrar com os amigos e os companheiros de Academia. Não sei o que isso pode mudar na minha vida, mas é uma imensa alegria estar ao lado deles.”
Os demais concorrentes eram Eloi Angelos Guio D’Aracosia, Rodrigo Cabrera Gonzales, Francisco Régis Frota Araújo, Placidino Guerrieri Brigagão, Rossini Corrêa, José Roberto Guedes de Oliveira, Lucas Menezes, Glauco Mattoso, Remilson Soares Candeia, José Itamar Abreu Costa, Marilena Barreiros Salazar, Raquel Naveira, Felisbelo da Silva e Sérgio Caldeira de Araújo.
Natural de Araraquara, no interior de São Paulo, o escritor atuou em jornais locais até seus 21 anos, quando veio para a capital paulista. Como jornalista, trabalhou para o jornal Última Hora e a revista CLAUDIA, publicada pela Editora Abril, que edita VEJA. Na revista mensal, voltada ao público feminino, chegou a atuar como redator-chefe. Também trabalhou nas revistas Realidade, Setenta, Planeta, Ciência e Vida, Lui e Vogue. Hoje assina uma coluna no jornal O Estado de S.Paulo, publicada a cada duas semanas.
Sua carreira como contista, cronista e romancista começou em 1965, quando lançou seu primeiro livro, Dentes ao Sol, de contos. No total, lançou 42 livros, sendo os mais conhecidos Bebel que a Cidade Comeu, O Beijo Não Vem da Boca, Cadeiras Proibidas, Não Verás País Nenhum e Zero. Este último, lançado em 1975, foi retirado de circulação pela ditadura militar brasileira pouco depois – por, segundo o governo, atentar contra a “moral e os bons costumes” – e só liberado em 1978.
O romance apresenta um casal que mantém uma relação ambígua, marcada por desprezo e, ao mesmo tempo, desejo. Veem, ao seu redor, assassinatos, torturas e prisões – o retrato do que foram os anos de chumbo na ditadura militar. Zero vendeu mais de 800 000 cópias desde o lançamento e foi traduzido para dez línguas.
O escritor recebeu prêmios como o Jabuti de melhor ficção do ano com o infantil O Menino que Vendia Palavras, em 2008, e o Prêmio Machado de Assis em 2016, pelo conjunto de sua obra. É ocupante da cadeira 37 da Academia Paulista de Letras desde 2007.