IMPERDÍVEL: Murakami fala da arte da escrita em novo livro
Celebrado autor japonês de obras como ‘1Q84’ e ‘Kafka à Beira-Mar’ discute literatura e conta como virou romancista
Um dos autores japoneses mais conhecidos e festejados da atualidade e constantemente apontado como um dos favoritos ao Prêmio Nobel de Literatura, Haruki Murakami ganhou uma legião de fãs ao redor do mundo com seu trabalho de ficção. Livros como Kafka à Beira-Mar, a trilogia 1Q84 e Caçando Carneiros conquistaram leitores fervorosos em mais de quarenta idiomas com narrativas que misturam o dia a dia mais mundano do Japão com elementos fantasiosos. Em sua mais nova obra, Romancista como Vocação (tradução de Eunice Suenaga, Alfaguara, 168 páginas, 39,90 reais), livro de não-ficção que chega agora ao Brasil, porém, o autor se dedica a falar sobre a arte da escrita.
No livro, Murakami mostra a sua visão da literatura e do ofício do autor ao mesmo tempo em que oferece relatos de sua vida pessoal – mesmo bastante celebrado, o escritor se mantém recluso, longe dos holofotes. Fala de como se casou, abriu um estabelecimento que tocava jazz e servia café, bebidas alcoólicas e alguns pratos e se formou na Universidade de Waseda, nessa ordem, subvertendo a lógica comum de estudar, trabalhar e se casar que geralmente norteava a vida das outras pessoas de sua geração. Relembra a infância e conta como chegou à carreira de romancista, após uma epifania que teve durante um jogo de beisebol em abril de 1978.
Murakami ainda apresenta uma teoria: a de que os romancistas que tentam explorar outras áreas são recebidos com “cara feia” por seus respectivos especialistas, o que não acontece quando um cantor ou pintor decide escrever porque “praticamente todas as pessoas são capazes de escrever um mero romance”. “(…) Basta a pessoa saber escrever (a maioria dos japoneses sabe), ter caneta esferográfica e caderno e certa capacidade de criar histórias, sem precisar receber treinamento especializado”, diz.
Para ele, a escrita de um romance é uma maneira de uma pessoa converter em narrativa o que existe em sua consciência. “O que existe na consciência e o que foi expresso são diferentes, e eles usam essa diferença como uma alavanca para criar o dinamismo da narrativa. É um trabalho cheio de rodeios, que demanda muito tempo”, escreve.