“Fico feliz por ter sido durão. Pois olhem como eles se saíram. Eu criei crianças que todos amaram ao redor do mundo”, disse Joe Jackson em entrevista à CNN, em 2013. O tema que continuava a pautar as conversas com o patriarca da família Jackson era o relacionamento abusivo que ele manteve com os filhos, notadamente com Michael Jackson. Teria sido o autoritarismo de Joe que fez do grupo Jackson 5 um sucesso mundial? E que mais tarde emplacaria Michael e a irmã Janet nas paradas? Ou teria sido tamanha aspereza que agravou a depressão do rei do pop e sua crise de autoimagem?
Em entrevistas na vida adulta, Michael contou como ele e os irmão ensaiavam com o Jackson 5, enquanto o pai os vigiava de cinto na mão. Quando um deles errava um passo de dança ou nota musical, logo era agredido. A pressão era tanta que a simples imagem de Joe fazia com que o cantor tivesse ânsias e vômitos. Michael ainda dizia que o pai o chamava de feio, especialmente pelos sintomas de vitiligo.
Janet Jackson também afirmou diversas vezes não ter um relacionamento próximo com o patriarca, a quem, aliás, não chamava de pai, mas sim de Joe — ou Joseph, seu nome de batismo. La Toya, outra popstar da família, foi ainda mais longe e escreveu um livro, lançado em 1991, em que afirma que ela e sua irmã Rebbie teriam sofrido abusos sexuais em casa, revelação que mais tarde a própria negou, dizendo ter se enganado.
O currículo de maus-tratos ofuscou o legado de Joe como o empresário que marcou época na música pop, criador de uma espécie de dinastia na indústria musical. A conduta controversa o deixou de fora do testamento de Michael, morto em 2009, por overdose de medicamentos. A fortuna do cantor acabou controlada por um fundo fiduciário. Apenas sua mãe e seus filhos foram listados como herdeiros. Mesmo assim, Joe recorreu à Justiça para reverter a decisão do filho, esforço que acabou em vão. Sem herança, ele passou os últimos anos tentando lucrar em cima da imagem do rebento mais famoso, cobrando por palestras e entrevistas, sugerindo teorias da conspiração sobre a morte de Michael.
No ano passado, já diagnosticado com demência e preso a uma cadeira de rodas, Joe teria dito a amigos próximos que se arrependia de ter tratado os filhos com agressividade. Contudo, continuava a dizer que estava apenas tentando discipliná-los, que almejava que os filhos fossem durões como ele. “Eu não queria que eles fossem moles. Eu apenas batia neles com um cinto. Eu nunca os espanquei”, tentava amenizar o que não tinha mais remédio.