José Ramos Tinhorão, pesquisador e crítico musical, morre aos 93 anos
Com textos mordazes e polêmicos, ele personificava a imagem do crítico ranzinza — chegando até a inspirar um personagem de Nelson Rodrigues
Um dos mais respeitados pesquisadores e críticos musicais brasileiros, José Ramos Tinhorão morreu nesta terça-feira, aos 93 anos. A causa da morte não foi informada. Tido como uma pessoa mal-humorada e temida, Tinhorão ganhou fama por seus textos mordazes e polêmicos. Com mais de 70 anos de carreira, ele escreveu sobre os mais importantes movimentos musicais brasileiros. Em uma entrevista ao jornal O Globo, em 2015, ele disse que a Bossa Nova era “puro jazz pasteurizado” e a Tropicália um “ritmo de goteira” e que ambos não eram movimentos genuinamente brasileiros. Já Jovem Guarda foi chamada de “uma simplificação do rock”. O crítico, enfim, não deixava pedra sobre pedra.
Nascido em Santos, no litoral paulista, mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito e jornalismo. Já o nome “Tinhorão” foi um apelido que ganhou do editor Pompeu de Souza, no Diário Carioca, em referência a uma planta venenosa de mesmo nome. Em 1958, quando foi trabalhar no Jornal do Brasil, ele inspirou um personagem de Nelson Rodrigues, no folhetim Asfalto Selvagem. Nele, Tinhorão era retratado, segundo o biógrafo Ruy Castro, como “um jovem sátiro a bordo de um calhambeque e mantendo um caderninho onde anotava os nomes de suas conquistas”. O crítico trabalhou ainda em veículos de imprensa como a TV Excelsior, a TV Globo, a Rádio Nacional e também em VEJA.
Grandes nomes da música não passaram batido por ele. Roberto Carlos, por exemplo, representou durante a ditadura militar um ideal de bom moço e Chico Buarque já não compunha atualmente como no passado. Para ele, com a chegada do funk e do sertanejo, já não havia música brasileira para criticar.
Ao longo da carreira, ele escreveu diversos livros, quase todos ligados à música brasileira. O primeiro deles foi lançado em 1966: Música Popular: Um Tema em Debate. Ele também tinha publicações sobre o fado e outros ritmos portugueses. O pesquisador colecionava discos. Em seu acervo, vendido ao Instituto Moreira Salles em 2001, ele mantinha mais de 13.000 LPs e 14.000 livros sobre cultura popular, além de 35.000 documentos, fotos, filmes, jornais e revistas relacionados à música.