A conexão entre a atriz Letitia Wright e Chadwick Boseman foi instantânea. No processo de testes para o papel de Shuri, na superprodução Pantera Negra, lançado em 2018, a jovem viajou de Londres, onde vive, até Los Angeles para conhecer o ator que daria vida ao super-herói africano da Marvel. “Foi como se eu tivesse encontrado um irmão mais velho perdido”, disse ela em entrevista à revista W Magazine sobre a química com Boseman. E foi como quem perde um irmão que Letitia sofreu quando o ator morreu precocemente em 2020, aos 43 anos, em decorrência de um câncer de cólon. Agora, a jovem de 29 anos encara duas missões que se sobrepõem: enquanto supera a dor do luto, ela carrega o legado do ator em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, em cartaz nos cinemas.
Integrar o ilustre time de personagens da Marvel deu uma guinada na carreira da atriz. Cultivando a paixão pelos filmes e pela atuação desde pequena, Letitia teve certeza de que poderia escolher essa profissão ao ver Keke Palmer em Prova de Fogo – Uma História de Vida, de 2006. No longa, Palmer é uma menina de 11 anos habilidosa com as palavras — e, apesar da oposição da mãe, participa de um concurso de soletração. “O filme fez muito por mim. É uma das razões pelas quais estou aqui”, contou Letitia à revista americana The Hollywood Reporter.
Nascida em Georgetown, capital da Guiana, a jovem se mudou com a mãe, professora, ainda criança para Londres, na Inglaterra. Aos 16 anos, ela se matriculou na escola de teatro London Identity School of Acting. Femi Oguns, presidente da escola, notou Letitia que, apesar de quieta, se revelou “uma agulha no palheiro”, segundo ele. Dono de uma agência de talentos, que conta com outras estrelas negras e inglesas, como John Boyega e Cynthia Erivo, Oguns contratou Letitia, que logo integrou elencos de séries, como Holby City e Top Boy. Mas foi a participação dela na popular série Black Mirror que lhe serviu de passaporte para a fama mundial — e ainda rendeu uma indicação ao Emmy de melhor atriz coadjuvante em série limitada ou filme. Dali para Pantera Negra foi um salto curto, mas deveras alto.
A projeção trouxe, também, uma janela para atitudes questionáveis da atriz na vida pessoal. No auge da pandemia, em 2020, Letitia compartilhou no Twitter informações falsas sobre a vacina contra a Covid-19, que ainda estava em desenvolvimento. Seu posicionamento antivacina não pegou bem — e teria, aliás, afetado o retorno seguro do elenco ao set de filmagens da produção, então interrompida pela pandemia. Hoje, Letitia adotou uma postura neutra sobre o tema. Ou melhor: ela não fala mais publicamente sobre o assunto. Em contrapartida, a atriz se revela aberta a outros temas pessoais. Caso da luta contra a depressão e de como isso a levou a se envolver mais com a religião cristã. Segundo ela conta, os problemas de saúde mental foram tão incapacitantes que ela chegou a se afastar do trabalho e a recusar papéis em filmes, entre eles um com Nicole Kidman, para se tratar.
Entre polêmicas e bons trabalhos, que atestam sua qualidade como atriz, Letitia parece que sairá ilesa da cultura do cancelamento. Este ano, ela lançou diversos outros filmes além de Pantera Negra. São produções que vão da pop adaptação da trama de Agatha Christie Morte no Nilo, até dois filmes elogiados em festivais de cinema, os dramas Aisha e The Silent Twins. Em breve ela ainda vai participar do faroeste Surrounded. Letitia está em alta — e não pretende deixar o topo tão cedo.