Nos anos 1980, o reinado platinado das apresentadoras infantis contava apenas com a morenice dela como contraponto. Escalada por Silvio Santos, a baiana Eliemary Silva da Silveira, que entrou para o primeiro time de celebridades da época como Mara Maravilha, chega aos 50 anos no mês que vem com motivo extra para comemorar: após duas décadas longe da televisão, voltou embalada em polêmica no reality show A Fazenda, da Record, em 2015, e emplacou de vez como apresentadora no mesmo SBT que a consagrou.
No lugar das crianças e borboletas do cenário, divide a tela com Décio Piccinini, Mamma Bruschetta, Livia Andrade e Leo Dias, com quem comenta o mundo das celebridades. Já se estranhou no ar com parte dos colegas de palco e com convidados como a funkeira Ludmilla, de quem criticou o figurino. De treta em treta, consegue exatamente o que Silvio queria ao escalá-la: audiência. Na última semana, teve média em torno de 7 pontos, com picos de 9, o que garantiu a vice-liderança para a emissora em um horário disputado por programas de mesmo perfil sensacionalista.
Em meio aos preparativos para a sua festa de aniversário, marcada para o dia 6, Mara recebeu VEJA para uma conversa em seu camarim.
Como é fazer muito sucesso e desaparecer? Você aprende. Amadurece. Dói, mas é muito valioso crescer. Aprendi a não criar expectativa com as pessoas. O perdão é uma palavra maior que decepção. É muito gostoso o lado do anonimato, poder ir a uma feira, a um mercado. A fama tem um glamour que só existe na cabeça das pessoas.
De uma vez por todas: você fez macumba para a Angélica? Não. Odeio essas coisas. Com todo respeito a quem é devoto, nunca gostei. Tenho paúra.
Vou fazer uma festa para 200 pessoas, que chamei de 50 Tons de Mara Maravilha. Não vou querer doação. Cada convite vai com a lista de onde comprar meu presente, que é na Polishop. Tem esteira, um monte de coisa
O que achou quando surgiu um vídeo antigo, em que Xuxa contava que tinha cadelinhas chamadas Angélica e Mara? Uma homenagem. O pessoal falava que eu era inimiga da Xuxa, e não é verdade. Como agora falam de mim e da Lívia Andrade. A gente pode ter nossas diferenças no ar, mas o mesmo acontece em relação aos outros apresentadores do Fofocalizando. Isso é calúnia e injustiça.
Que tal fazer 50 anos? É muito bom, mas queria ter a disposição dos 15 anos com a cabeça de hoje. Vou fazer uma festa para 200 pessoas, que chamei de 50 Tons de Mara Maravilha. Vai ser toda com permuta, do buffet à minha roupa. Ah, e não vou querer doação. Quando quero ajudar alguma instituição, eu mesma faço isso, sem divulgar. Cada convite vai com a lista de onde comprar meu presente, que é na Polishop. Tem esteira, um monte de coisa. Não me dê sapato, não me dê roupa.
No dia-a-dia, você causa tanto quanto na televisão? É difícil ser seu vizinho, por exemplo? Amei a pergunta. Tenho uma ótima relação com todos, até me levam bolo. O problema não é como eu sou, é como as pessoas me interpretam. É comum dizerem “Nossa, você é diferente do que eu imaginava”.
O que você demonstra na televisão é um personagem? Venho da escola de Silvio Santos e Edir Macedo. Se for fazer alegria, eu me pinto de palhaça. Se é para falar a real, irmão, vamos falar a real. Eu não vou mudar. Repito: não é o que eu falo, é como me interpretam. Sou uma pessoa do bem, da paz, tenho em dia meus impostos. Não tenho vergonha de mim, não. Muito pelo contrário. Tenho orgulho de mim. Quanto mais você for parecido com o povo, mais dá certo. Pode falar o que for, mas no fundo, no fundo, o povo me ama. E é porque eu falo o que penso.
Qual é o limite entre falar o que pensa e ser apenas grosseiro? É aí que eu peco. Minha terapeuta até falou que sinceridade demais traz o risco de, em algum momento, ser classificada como mal-educada ou burra. Entre as duas opções, prefiro a primeira.
Faz terapia com que frequência? Quando me dá um tilt, duas vezes por semana. De resto, uma.
Pode falar o que for, mas no fundo, no fundo, o povo me ama. E é porque eu falo o que penso
O que você entende por “dar um tilt”? Gosto de viver entusiasmada. Sabe? Intensa. Não gosto de viver fria. Quando parece que, ai, surge um desânimo para a vida. Sempre tem a ver com esse assunto da minha mãe, apesar de já fazer cinco anos da morte dela [começa a chorar]. Nada me desestrutura. Nada. Eu sei o que é viver tendo muito e tendo pouco. Só não consigo ainda saber como é não estar com ela. É só o que não consigo superar. O resto eu tiro de letra.
Como lida quando odeiam você? Não me acho odiada. É unânime as pessoas falarem: a Mara pode ser o que for, mas é inteligente. Que ótimo que não sou morna. Porque o morno tem que ser vomitado. Querido, eu me acho uma pessoa maravilha. Eu não sou a única. A internet, como todo mundo já fala, é uma terra sem dono. Não quero que fique um estigma. Meu nome é Mara Maravilha, não é Mara Odiada.
Você gosta de dinheiro? Lógico. Respeito muito o dinheiro. Sim, vou dizer que não? Não amo, não idolatro, e eu sou invendável.
Como se sustentava quando estava fora do ar? Ganho bastante dos direitos autorais das minhas músicas, até hoje. Fazia bastante evento gospel também. Mas minha mãe investiu bem meu dinheiro.
Por que tantas boas apresentadoras não acham espaço na televisão? Por que ser artista tem que ser um privilégio? Tem advogados com pós-graduação e sem emprego. Que pena que mais de 12 milhões estão desempregados. Não é “que pena porque aquela apresentadora está desempregada”. Sorry. Quando aconteceu comigo, paguei minhas contas em dia, cuidei da minha mãe e a vida seguiu.
Você declarou que era viciada em remédios inibidores de apetite. Hoje em dia está em paz com a balança? Sim, mudei minha alimentação. Meu sonho é conseguir ser vegana, eliminei carne e muita coisa de origem animal, mas ainda não resisto a um sushi. Modero no sal e no açúcar, caminho e faço hidroginástica. Um projeto para este ano é diminuir os meus seios, o médico só deu uma levantada. Mas não tenho prótese, nada. Lipo eu fiz bastante, mais de uma vez. Faço meus procedimentos, sou a favor dos recursos, de botox, mas plástica eu nunca fiz. Mulher tem que se cuidar.
Experimentou drogas? Os anos 1980 foram bem intensos nesse sentido. Nada. Não sei o que é cocaína, não me dou bem com bebida.
O que acha da música nacional hoje? Escuto mesmo é gospel. Gosto da Ivete Sangalo, é incontestável o talento da Anitta. Mas música é o todo: letra e ritmo, e tem letras que realmente não gosto. Gosto do funk, o problema é a letra.
Pabllo Vittar, o que acha? Linda. Só questiono um pouco o lado de cantora. Mas, para os hits que se propõe a fazer, ela bomba, né? Acho uma modelo, manequim. Bota uma roupa e sai andando, maravilhosa.
Já decidiu em quem vai votar nas eleições deste ano? Decidi, mas prefiro não falar.
Você declarou que mulher tem que ser submissa ao marido. Essa palavra não parece combinar com você. Considero que essa palavra significa “sob uma missão”. E a missão do homem é fazer a mulher se sentir amada.
Submissa quer dizer obediente. As mulheres não ficam bravas de você falar isso? Estou falando de submissão, não de escravidão. Não de maltratar a mulher. Mas de colocá-la no melhor lugar. Minha opinião é muito forte, eu sei. Mas escolho essa palavra. É um direito meu. Está escrito na Bíblia. Isso não quer dizer que tenho êxito. Eu não sou exemplo, mas é uma escolha que eu faço.
Não ter sido mãe é algo difícil para você? Ainda posso adotar, e sei que essa bênção vai chegar. Fiz inseminação, com o Roger Abdelmassih, aliás. Na época que era casada com Paulinho, devia ter uns 30 e poucos anos. Mas eu acho que ele não fez nada em mim, não (o ex-médico foi condenado a 181 anos de prisão pelo estupro de 37 mulheres).