Seu novo filme, A Paixão Segundo G.H. — que chegará aos cinemas em 2024 —, é adaptação da obra de Clarice Lispector. Como essa autora impactou sua vida? Ela chegou à minha vida quando tinha 18 anos e li A Hora da Estrela. Aos 29, conheci A Paixão Segundo G.H. e foi uma experiência potente. Jamais imaginei que interpretaria essa personagem um dia. Até que, em 2017, o Luiz Fernando Carvalho me convidou para fazer o filme.
Como foi sua preparação — e como lidou com a barata em cena, já que o livro de Clarice conta como a protagonista interage com o inseto? Foi uma experiência muito desafiadora, que me mudou como profissional e mulher. Precisei ter coragem de me entregar ao desconhecido em um processo artesanal. O laboratório contou com oficinas, workshops, leituras e inúmeras aulas de corpo e voz. Durou um ano. Já as cenas com a barata foram muito intensas também. Me lembro até hoje da sensação e do cheiro do material usado, ainda mais por se tratar de uma passagem importante no livro e no filme. O resultado é incrível.
Esse é um projeto com Luiz Fernando Carvalho, diretor “denso” com quem já trabalhou outras vezes. O que a atrai na parceria? Nossa relação é marcada pelo encontro com a literatura brasileira. Estivemos juntos em vários trabalhos, como na minissérie da Globo Capitu, personagem de Machado de Assis, um trabalho que debato com as pessoas até hoje. O Luiz é um diretor rigoroso, ao mesmo tempo que é muito livre, então temos uma liberdade de criação infinita.
Sua volta às novelas — após um hiato de sete anos — é com o remake de Renascer, que estreia na Globo em janeiro. Por que essa trama? Foi um verdadeiro presente do diretor-geral Gustavo Fernandez. É uma oportunidade de me reconectar com o universo de Benedito Ruy Barbosa, autor fundamental em minha trajetória. Interpretarei a Cândida, uma personagem inspiradora, que teve uma vida dedicada à preservação do meio ambiente. E é uma alegria contracenar pela primeira vez com Humberto Carrão, que fará o José Inocêncio.
No ano passado, você estrelou o filme Animais Fantásticos — Os Segredos de Dumbledore. O que pensa sobre as declarações consideradas transfóbicas da autora do universo de Harry Potter, J.K. Rowling? Eu não faço minhas as palavras dela, jamais. Tenho uma outra cabeça e maneira de pensar, sou uma pessoa muito aberta para esse tipo de questão. Respeito e tenho admiração pela comunidade LGBTQIA+.
Publicado em VEJA de 15 de dezembro de 2023, edição nº 2872