Mauricio de Sousa: “É lógico que quero entrar para a ABL”
Cartunista falou a VEJA sobre o impacto cultural de seus desenhos e do desejo de entrar para a Academia Brasileira de Letras
Nos 60 anos da Mônica, como avalia o impacto cultural da personagem? Vou dar um exemplo no exterior. Há alguns anos publicávamos as historinhas da Mônica na Indonésia, e descobrimos que as meninas de lá começaram a abrir clubinhos porque queriam ser iguais a ela. Num país repressivo, elas viam a personagem como sendo dona de si.
O senhor é pai de dez filhos. Além de Mônica, que inspirou a personagem, como eles influenciam seu trabalho? Cada filho é um retrato falado. A Mônica é determinada, briga pelo que acredita. Não à toa, é diretora comercial. Mas ver sua filha comendo uma melancia inteira, como aconteceu com a Magali, também pode inspirar um personagem. Até hoje ela é assim. Uma vez, me disse que o ex-marido não era romântico porque não comprava lasanha para ela.
Que tipo de cuidados toma ao criar as historinhas? Nossa mensagem é muito poderosa e pode interferir no comportamento da criançada. Por isso, nossos personagens não fumam nem bebem. Percebi que há hábitos que não devemos mostrar porque as crianças assimilam esses costumes. É por isso que hoje a Mônica não bate mais em ninguém. Ela pode até girar o coelhinho, mas não bate. Também evitamos qualquer tipo de preconceito ou agressão a qualquer ser vivo.
Como um dos maiores autores infantis do país, o senhor espera ser eleito para a Academia Brasileira de Letras? É lógico que quero (entrar na ABL), mas tenho de esperar o tempo adequado e certo. Já sou membro da Academia Paulista de Letras e fico babando quando o pessoal de lá começa a conversar. Também fico um pouquinho triste porque não falo latim ou grego como alguns deles falam. Admiro os acadêmicos e preciso correr atrás para chegar ao nível de sofisticação deles.
Publicado em VEJA de 22 de março de 2023, edição nº 2833