MC Livinho defende música considerada pró-estupro: ‘Mimimi’
'Vou abusar bem dessa mina', diz a letra da música 'Covardia', atacada nas redes sociais
A violência sexual contra a mulher pode ser chamada também de “estupro” ou de “abuso“. Dado esse fato, se um homem cantar “Vou abusar bem dessa mina“, como você acha que ele deve ser entendido? Como um romântico ou um sujeito que quer apenas “degustar” uma mulher com respeito? Pois é essa a proposta de interpretação que MC Livinho pede que deem à música Covardia, que vem sendo acusada, para o seu alegado espanto, de fazer apologia ao estupro.
“Oi, família do mimimi”, diz ele em um vídeo publicado no Facebook (abaixo) para justificar a canção. Mimimi é o termo usado para os que fazem birra, reclamam sem razão. No vídeo, Livinho culpa os críticos pelo equívoco que se deve somente a ele. O problema, afirma, é que as pessoas não estão sabendo interpretar sua tão poética letra, que conta com versos como “Toma pic*”. “Ouça essa música, interprete e você vai ver que não tem nada a ver com abuso. Essa música tem a ver com a minha criatividade. Gosto de usar letras diferentes, de ser diferentes”, diz o cantor, que parece botar fé no próprio talento.
“A letra fala dum cara que conheceu uma mina e a primeira vez não foi tão prazerosa para ele, porque acabou não controlando a emoção, foi tudo muito rápido. E na segunda vez ele vai, abusa do beijo, abusa do corpo da menina, mas tudo num bom sentido”, explica Livinho aos reles mortais incapazes de alcançar o significado proposto pelo gênio.
MC Livinho, nascido em uma família evangélica da Zona Norte de São Paulo, pode até não ter tido a intenção de dar um valor positivo ao abuso sexual, mas definitivamente não foi feliz na escolha do vocabulário — o que não reconhece, por arrogância ou por pura ignorância. O sujeito da letra ainda afirma ter lido “três livros eróticos”. É difícil acreditar que tenha lido uma página sequer se ele — e não o ouvinte que o critica — mostra não entender absolutamente nada de semântica.
É claro, também, que o sujeito da música não é o próprio Livinho — como o sujeito de Tua Cantiga não é necessariamente Chico Buarque. Mas aqui não se trata de tentar entender se o personagem foi ou não machista, o que o personagem de Chico não é ao fim e ao cabo. Trata-se de algo muito mais grave, da defesa de um crime com punição prevista no Código Penal Brasileiro. Ou será que esse é Livinho quem não consegue interpretar?