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‘Meditation Park’ contorna o feminismo para falar sobre mulheres

Atriz Cheng Pei Pei, que encabeça o elenco e assina a produção executiva, diz que história foi em parte inspirada em sua vida

Por Ana Weiss
Atualizado em 12 abr 2019, 08h00 - Publicado em 12 abr 2019, 08h00

O contentamento com que Maria Wang manuseia os pedaços da carne para o jantar de aniversário do marido é quase do mesmo tamanho da repulsa com que a matriarca carrega, horas depois, a calcinha encontrada no bolso do aniversariante. Quase. O nojo e o atordoamento com que a personagem maneja a peça até decidir devolver ao esconderijo a prova de que o companheiro tem uma amante rendem mais e ocupam algumas das melhores e mais divertidas passagens de Meditation Park, que estreou na quinta-feira 11.

O efeito cômico não tira o peso da mudança que entra em curso a partir da descoberta da infidelidade no casamento decano. Imigrante chinesa devotada ao marido e à família, a personagem vivida por Cheng Pei Pei descobre, com a calcinha, a vida que não teve. O filme da canadense Mina Chum é sobre essa busca pelo tempo perdido da mulher que viveu com alegria e silêncio o papel que lhe foi designado pela tradição de suas origens. Maria então resolve ter amigos, ganhar dinheiro e aprender a andar de bicicleta, tudo com a falta de jeito de quem nunca pensou a respeito em anos do caminho entre a peixaria e a cozinha.

Não se trata de um libelo feminista, ainda que seja um filme sobre mulheres feito por mulheres (Pei Pei também cuida da produção executiva, o que ela achou muito cansativo, como contou a VEJA). Nem todas as questões existenciais da senhora Wang são solucionadas com um “basta”. Muitas das saídas, ao contrário, se abrem quando a matriarca se pacifica com a história maternal e resignada.

Pei Pei (O Tigre e O Dragão) acha que é um momento muito apropriado para se discutir a questão feminina. “Principalmente a partir do movimento #MeToo, ficou claro que era preciso colocar as muitas questões silenciadas das mulheres em cena”, diz a atriz. “Cresci na China e emigrei para os Estados Unidos sem falar inglês, em um tempo em que tudo era muito diferente no mundo. Minhas filhas são diferentes de mim, mas também são muito diferentes entre si.”

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Ava (Sandra Oh, de Grey’s Anatomy e Killing Eve) faz no filme esse contraponto geracional. Filha de Maria, criada no Canadá, é profissional, esposa e mãe supereficiente, uma  escrava da necessidade incessante de ter tudo e todos sob o seu controle.  “As questões das mulheres são muitas e muito cheias de particularidades”, diz a protagonista. “Para fazer Maria, minha inspiração fui eu mesma. Embora nunca tenha vivido uma infidelidade, sei o que é imigrar sem a independência de saber a língua e poder trabalhar.”

Pei Pei diz que não pretende produzir mais filmes, que seu lugar é na frente das câmeras. Ela faz parte do elenco do live motion de Mulan, ainda sem data de estreia. Ela fará a casamenteira da história. “Esse é um filme feminista”, define a atriz, que diz se identificar com a figura da guerreira do título para o qual aos 73 anos não seria convidada.

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