O cantor Milton Nascimento respondeu à carta que o músico Roger Waters, ex-Pink Floyd, enviou-lhe pedindo para que cancelasse um show único que acontecerá em Tel Aviv, em Israel, neste domingo, 30. “Pouquíssimas vezes declinei de um convite. Afinal de contas, todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo?”, escreveu o brasileiro em sua conta do Instagram.
“Fui convidado a cantar aqui por uma empresa gerenciada inteiramente por um brasileiro. Somente com essa informação cai por terra qualquer tipo de argumento de que eu esteja contribuindo com o ‘apartheid israelense’. Este show NÃO tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense”, disse Milton em resposta a Waters.
Waters enviou uma carta ao movimento de Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS) que promovia uma campanha para Nascimento cancelar o show. O músico inglês disse que o brasileiro deveria não se apresentar em Israel para evitar que “sua música seja utilizada para lavar o apartheid com morte”.
Por sua vez, Milton comparou a situação com o regime militar brasileiro. “Durante a ditadura militar brasileira eu jamais deixei de tocar no meu país. Então, por que eu deixaria de tocar agora? Por que deixaria de compartilhar experiências de amor e mudança enquanto acontece no Brasil um governo de extrema-direita?”, questionou.
O artista brasileiro afirmou que jamais abandonou o público, “mesmo divergindo das ideais de um governo”. “Por que um povo deve sofrer retaliação pelos atos políticos de seus governantes? As minorias contrárias devem continuar sem voz? Para mim, repito, o artista deve ir onde o povo está e hoje eu estou aqui para celebrar a paz e tudo que nos une. Viva o amor, viva a música!”.
Nos comentários da postagem, as pessoas apoiaram a decisão de Milton. A cantora Fafá de Belém escreveu que, apesar de nunca terem passado por qualquer problema, têm pessoas que se sentem capaz de julgar outras que “passaram por muitos e se posicionaram de cara limpa”. “P***a-se Roger Waters e viva Milton Nascimento”, disse.
O show
Milton apresentou seu show “Clube da Esquina” para um público do 2 mil pessoas. “Shalom, Tel Aviv”, disse logo na abertura. Bastante aplaudido, nada falou de política durante as 2 horas de apresentação.