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‘Minha luta é solitária’, diz artista e ativista chinês Ai Weiwei

Em sua passagem pelo Brasil, maior nome da arte chinesa falou a VEJA sobre sua luta contras as autoridades comunistas e os traumas da Revolução Cultural

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 ago 2017, 08h00 - Publicado em 13 ago 2017, 08h00

A edição de VEJA que circula nesta semana traz reportagem sobre o artista plástico e dissidente chinês Ai Weiwei. Pop star da arte contemporânea, Weiwei prova que se pode fazer arte política sem abdicar do humor e da poesia — e agora volta sua atenção para o Brasil: ele esteve no país na semana passada, voltará em outubro para lançar um documentário sobre o drama dos refugiados e, no ano que vem, fará uma grande exposição na Oca, em São Paulo. A primeira viagem do mais celebrado nome da arte chinesa ao Brasil, após passagem pela Argentina e pelo Chile, teve uma agenda de extrema paparicação e pajelança. Cada mergulho de Weiwei num evento resultou em um flash de sucesso nas redes sociais. Ele encarou desde jantar com figurões das artes até um encontro com o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa em que se consumiu certo cigarro suspeito. O circo em torno de Weiwei é compreensível: ele é um pop star da arte contemporânea. Multidões formam filas para ver seus trabalhos de estupendo impacto visual, como a instalação feita com 100 milhões de réplicas de cerâmica de sementes de girassol exibida em 2010 pela Tate Modern, em Londres. Mas não é só a força extraordinária da obra que torna seu rosto reconhecível em escala globalizada. Por trás do barbudo bonachão de fala mansa, de 59 anos, há um dragão da militância política. As labaredas de Weiwei causam incômodo na ditadura comunista da China. Daí decorre o paradoxo: a estrela tão festejada (e festeira) das artes mundiais teve seu nome e seu trabalho deletados em seu país. “Sou proibido de me expressar e vender minhas obras. E a imprensa chinesa só se refere a mim como ‘aquele artista gordo’ ”, disse Weiwei a VEJA. Confira trechos da entrevista:

Como se recorda de sua prisão pelo governo chinês, em 2011? Foi um horror. Botaram um saco preto na minha cabeça e me levaram para um lugar secreto, sem dar satisfação. Nessas horas, tentam provar que você está nas mãos deles. Não existe lei. Num quarto escuro, eu tinha de ficar sentado em posição rígida, sem piscar. Para tomar água e fazer xixi, precisava implorar a dois guardas. Não imagino outro nome para isso: é tortura. Fiquei 81 dias nessa condição.

Os quatro anos seguintes, de prisão domiciliar, foram melhores? A tortura mudou de forma, mas continuou. Não podia sair de casa nem me comunicar ou usar a internet. Havia 24 câmeras me vigiando o tempo todo.

O senhor foi banido da China, mas é um pop star da arte fora do país. Como lida com o paradoxo? Certa vez, eles me disseram: você é tão famoso no Ocidente graças a nós. Eu respondi: sim, deveras. Mas o fato de um Estado tão poderoso valer-se de tudo para me calar prova a força do indivíduo na luta contra a opressão. Imagino que eles devam ter parado para pensar sobre isso. A verdade, porém, é que minha luta é solitária. Muitos outros artistas chineses foram reprimidos, mas preferiram silenciar. Sou o único que jamais admitiu se calar.

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