Morre em São Paulo o humorista e escritor Jô Soares, aos 84 anos
Ele estava internado no Hospital Sírio Libanês, na capital paulista, desde o fim do mês passado; a causa da morte não foi divulgada
Morreu na madrugada desta sexta-feira, 5, o ator, escritor, humorista, diretor e apresentador de televisão Jô Soares, aos 84 anos. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde o fim do mês passado. A informação foi divulgada primeiramente por sua ex-esposa Flávia Junqueira Pedras e confirmada posteriormente pela assessoria. A causa da morte ainda não foi divulgada. O velório e enterro de Jô serão reservados apenas à família e aos amigos. A data e o local ainda não foram informados.
“Viva você, meu Bitiko, Bolota, Miudeza, Bichinho, Porcaria, Gorducho. Você é orgulho pra todo mundo que compartilhou de alguma forma a vida com você. Agradeço aos senhores Tempo e Espaço, por terem me dado a sorte de deixar nossas vidas se cruzarem. Obrigada pelas risadas de dar asma, por nossas casas do meu jeito, pelas viagens aos lugares mais chiques e mais mequetrefes, pela quantidade de filmes, que você achava uma sorte eu não lembrar pra ver de novo, e pela quantidade indecente de sorvete que a gente tomou assistindo”, escreveu Flávia nas redes sociais.
Trajetória — José Eugênio Soares nasceu em 16 de janeiro de 1938, no Rio de Janeiro. Filho do empresário paraibano Orlando Heitor Soares e de Mercedes Leal Soares, Jô mudou-se para a Europa no fim da adolescência, onde viveu por cinco anos e trocou o sonho da carreira diplomática pelo desejo de trabalhar com artes cênicas. “Eu sempre ia ao teatro, assistia a shows, ia para a coxia ver como era. E já inventava números de sátira do cinema americano; fazia a dança com os sapatinhos que eu calçava nos dedos”, contou ao site da Globo sobre a experiência com artes na Suíça.
A família voltou ao Brasil em 1958 e Jô logo se matriculou em uma turma de teatro. Seu primeiro papel nos palcos, em 1959, foi na peça O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. No mesmo ano, trabalhou no filme cômico O Homem do Sputnik, de Carlos Manga, estrelado por Oscarito. Em seguida, Jô passou a escrever roteiros para programas da TV Continental e para a TV Rio, e também fez parte do Grande Teatro Tupi. Em 1960, o artista se mudou para São Paulo, onde conseguiu um emprego na TV Record e trabalhou em programas como Jô Show, Quadra de Azes, Você É o Detetive e A Família Trapo, seu primeiro sitcom ao vivo para a televisão. O programa, escrito por Jô em parceria com Carlos Alberto de Nóbrega, trazia no elenco grandes nomes do humor como Otello Zeloni, Renata Fronzi e Ronald Golias.
Sua estreia na Rede Globo aconteceu em 1970, com Faça Humor, Não Faça Guerra, em que Jô interpretava personagens variados. O programa acabou substituído por Satiricom, em 1973, que fazia paródias da grade do canal, à la Casseta & Planeta. Foi nos anos 1980 que a carreira do humorista na emissora alcançou um novo patamar, com a estreia de seu próprio programa, Viva o Gordo, exibido até 1987, inspirado na peça de teatro Viva o Gordo e Abaixo o Regime!, texto em que o humorista fazia críticas veladas à ditadura militar. Com diferentes esquetes, Jô interpretava personagens que marcaram sua trajetória, Capitão Gay (um super-herói homossexual que usava uniforme cor-de-rosa), o Zé da Galera (especialista em futebol) e o Reizinho (político preocupado com seu reino, uma crítica ao governo brasileiro da época).
A sátira política, aliás, era constante em seus textos. Em entrevista à revista VEJA, em 2007, Jô comentou sobre o por quê de a política merecer ser alvo dos humoristas. “O poder em si já é uma coisa ridícula. Assim que o sujeito assume a Presidência, colocam nele uma faixa que parece um suspensório torto. Quando, ainda mais, acontecem canalhices como as que têm vindo à tona, é preciso exacerbar esse ridículo.”
Com o fim de Viva o Gordo, o apresentador foi para o SBT, onde estrelou o Veja o Gordo e Jô Soares Onze e Meia, seu primeiro programa de entrevistas, inspirado nos talk-shows americanos. Ao longo de onze anos no ar, fez milhares de entrevistas com importantes personalidades nacionais e internacionais. O humorista retornou à Globo em 2000, com o Programa do Jô, outro talk-show, que se manteve no ar até 2016.
Em paralelo com a TV, Jô também calcou uma importante carreira no teatro, e trabalhou com nomes como Claude Magnier, Cacilda Becker, Walmor Chagas, Regina Duarte, entre outros. Em 2006, assinou a montagem de Ricardo III, peça de Shakespeare, pela qual ganhou Prêmio Qualidade Brasil. Multitarefas, Jô também participou da 9ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1967, como artista plástico, e chegou a dirigir um filme, O Pai do Povo, em 1976.
Escritor – Além de seus trabalhos para a TV e teatro, Jô também escreveu para importantes publicações impressas, como os jornais Última Hora, O Globo e Folha de S. Paulo, e para as revistas Manchete e VEJA, na qual colaborou de 1989 a 1996. Seu primeiro livro, O Astronauta sem Regime (L&PM), coletânea de crônicas do jornal O Globo, foi lançado em 1983. O sucesso como escritor veio com O Xangô de Baker Street (Companhia das Letras), em 1995, livro que entrou para a lista de best-sellers brasileiros da época e virou filme em 2001, pelas mãos do diretor Miguel Faria Jr.